O terremoto na Turquia apagou o nome a centenas de crianças

EPA / STR

Menino a sorrir depois de ter sido resgatado após o sismo na Turquia.

Segundo as autoridades de saúde turcas, há mais de 260 crianças feridas ainda não identificadas. O número pode aumentar significativamente à medida que mais áreas vão sendo alcançadas.

As crianças feridas no hospital de Adana, cidade no sul da Turquia gravemente afetada pelos terramotos desta semana, são demasiado jovens para entender tudo que perderam.

Na unidade de terapia intensiva, há centenas de casos de crianças não identificadas cujos pais morreram ou não puderam ser encontrados.

O terramoto que esta semana atingiu o país não só destruiu as suas famílias, mas apagou até os seus nomes.

É o caso de uma bebé, identificada como “anónima” numa etiqueta na sua cama. Tem múltiplas fraturas, um olho roxo e o rosto muito ferido; mas vira-se e sorri para quem passa.

“Sabemos onde foi encontrada e como chegou aqui. Mas estamos a tentar encontrar uma morada. A busca continua”, diz à BBC a pediatra Nursah Keskin, vice-diretora do hospital.

Muitos das crianças foram resgatadas de prédios que ruíram em outras regiões e levadas para Adana porque o hospital ainda está de pé. Muitos centros médicos nas zonas de desastre desabaram ou foram danificados.

É o caso de alguns bebés recém-nascidos na maternidade de um hospital gravemente atingido na cidade de Iskenderun, que foram levados à pressa para Adana.

O hospital de Adana tornou-se um centro de resgate.

As autoridades de saúde turcas dizem que há atualmente mais de 260 crianças feridas ainda não identificadas. O número pode aumentar significativamente à medida que mais áreas vão sendo alcançadas.

No hospital de Adana, sobreviventes do terramoto estão deitados em macas, outros enrolados em cobertores e deitados em colchões numa área de emergência. A ala cirúrgica também está repleta de crianças feridas.

Uma menina, com cinco a seis anos, teve um traumatismo craniano e múltiplas fraturas. Não consegue dizer o seu próprio nome. “Ela faz apenas contacto visual e por gestos”, diz à BBC a cirurgiã pediátrica Ilknur Banlicesur.

Por causa do choque, estas crianças não conseguem falar. Mas elas sabem os seus nomes. Depois de estabilizadas, daqui a alguns dias, poderemos tentar conversar com elas”, explica Banlicesur.

As autoridades de saúde estão a tentar encontrar os endereços das casas das crianças não identificadas. Mas muitas vezes as casas não passam de ruínas.

As redes sociais na Turquia estão cheias de posts sobre crianças desaparecidas, dando detalhes do andar em que viviam em prédios desabados.

Familiares sobreviventes e funcionários do Ministério da Saúde estão a visitar os centros médicos para ajudar a encontrar crianças desaparecidas.

Entretanto, no hospital de Adana os feridos continuam a chegar, chocados e exaustos.

Os próprios médicos também sofreram com o terramoto. Nursah Keskin, que perdeu diversos familiares, refugiou-se no seu hospital com os seus filhos devido aos tremores secundários.

Agradeço a Deus por ainda ter os meus filhos. Não consigo pensar em dor maior para uma mãe do que perder um filho”, diz Keskin.

À sua volta, por todo o lado, crianças esperam pelos pais. Algumas conseguiram encontrá-los. Mas muitas destas crianças são já os filhos anónimos dos sismos que esta semana devastaram a Turquia.

ZAP // BBC

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