/

“Extremistas exigem entrar” num governo instável. O que se diz lá fora sobre as eleições

3

Miguel A. Lopes/Lusa

O líder do Chega, André Ventura

“Reviravolta em Portugal” com “o parlamento mais fragmentado desde o fim da ditadura”. O mundo está a reagir às eleições “renhidas” deste domingo, que deram vitória ligeira à AD — mas o Chega é o grande destaque.

A Aliança Democrática (AD) venceu as eleições por uma margem mínima.

Já eram cerca de 1h30 da madrugada de domingo quando a contagem foi encerrada: 79 deputados para AD, 77 deputados para Partido Socialista (PS).

A viragem à direita nas eleições legislativas de domingo em Portugal, aliada ao crescimento do Chega, é a maior destacada pela imprensa europeia, que ressalva o facto de o resultado só ficar fechado com a contagem dos votos da emigração. A queda da abstenção também foi destacada.

Espanha

“O centro direita vence por margem mínima as eleições em Portugal e os extremistas reclamam entrada no governo“, escreve o jornal espanhol El País, destacando que o Chega ultrapassa o milhão de votos e propõe-se “libertar o país da extrema-esquerda”.

O espanhol refere, no entanto, que o resultado, que coloca a Aliança Democrática (AD) em primeiro lugar, seguida de PS e de Chega, só ficará fechado depois da contagem dos votos da emigração, que elegerão quatro deputados.

A eleição renhida do centro-direita é traduzida em “empate técnico” entre AD e PS no El Mundo, mas o artigo foi atualizado para a “vitória mínima do centro-direita” e “reviravolta em Portugal”

França

Em França, destaque para uma “vitória muito curta” da coligação, com mais ênfase na derrota socialista do que propriamente na vitória da AD.

“Os socialistas perdem quase metade dos seus assentos” na Assembleia da República, lê-se no Les Echos.

“A sua derrota beneficia principalmente o partido de extrema-direita Chega, que obteve 18% dos votos e pede a entrada num Governo da aliança de direita”, resume o diário francês.

Reino Unido

A viragem do país para a direita são notícia nas páginas eletrónicas de vários jornais britânicos, que destacam a incerteza em relação ao próximo governo.

O jornal The Times refere que o líder do PS, Pedro Nuno Santos, concedeu a derrota ainda no domingo “apesar de uma margem muito pequena” e destaca que o Chega, de extrema-direita, quadruplicou o número de deputados.

“O resultado representa um ganho significativo para a direita na União Europeia, onde partidos de direita venceram eleições ou aderiram a coligações em Itália, Grécia, Suécia e Finlândia nos últimos dois anos”, salienta o jornal.

O Times prevê que a AD “poderá tentar formar um governo minoritário sem o Chega que pode ser instável” pois dependeria da abstenção do PS em votações importantes.

O jornal The Guardian refere que o líder do PSD, Luís Montenegro, o principal partido da Aliança Democrática, vai estar sob “pressão considerável do seu próprio partido para chegar a um acordo com o partido de extrema-direita para ajudar o PSD a chegar ao governo”.

“Mesmo com o apoio da Iniciativa Liberal, de menor dimensão, de centro-direita, qualquer potencial governo minoritário liderado pela Aliança Democrática provavelmente ainda teria de contar com o apoio do Chega para aprovar legislação, deixando a sua estabilidade nas mãos da extrema direita”, observa.

O ‘site’ da estação BBC salienta que “o centro-direita de Portugal reivindicou uma vitória eleitoral estreita, mas tem poucas hipóteses de formar um governo maioritário” e que o país acabou com “o parlamento mais fragmentado desde o fim da sua ditadura, há meio século atrás.”

O Financial Times também destacou a vitória do “centro-direita” e o aumento da votação no Chega, ressalvando que “a possibilidade de a Aliança Democrática formar Governo vai depender do nacionalista Chega ou da ajuda dos derrotados socialistas”.

Brasil

“Ultradireita mostra força” e “disputa apertada”, com destaque para o recorde na abstenção — “a menor em mais de uma década” — na Folha de São Paulo.

“O grande destaque, porém, foi a legenda de ultradireita Chega, que se consolidou como terceira força ao quadruplicar sua bancada e se tornou peça-chave para a definição do próximo Governo”, lê-se no jornal brasileiro.

Alemanha

A “mudança à direita nas eleições legislativas antecipadas em Portugal” e a “derrota amarga” dos socialistas são destaque do Der Spiegel.

Os conservadores estão à frente, mas o grande vencedor é o partido populista de direita Chega”, avança o alemão.

EUA

Também a CNN destaca as duas grandes vitórias: a ligeira da AD e o disparo do partido de André Ventura, que conquistou “um quinto dos votos” nas eleições antecipadas deste domingo.

“Os resultados não são finais — mas o líder socialista Pedro Nuno Santos já assumiu a derrota. O Chega venceu 18%, uma conquista para o partido radical de extrema-direita e para o seu líder, André Ventura, um ex-aprendiz de padre [seminarista] e ex-comentador de futebol”, lê-se na norte-americana.

Bélgica

Na Bélgica, o Le Soir também destaca a vitória da direita, e a subida do Chega, “num dos poucos países da Europa que era governado pela esquerda”, considerando que a mesma “confirma o crescimento da extrema-direita no velho continente”.

Reuters

Para a Reuters, que colocou as eleições deste domingo em destaque de Mundo, “é incerto” que Luís Montenegro “possa governar sem o apoio do Chega, com o qual recusou negociar”.

“A representação parlamentar do Chega mais do que quadruplicou para pelo menos 48 deputados na legislatura de 230 assentos, dando à direita uma maioria”, destaca a agência financeira.

Bloomberg

A Bloomberg vai pelo mesmo caminho.

A edição europeia da financeira dava bastante destaque a Portugal, sublinhando em manchete a viragem do país à direita.

“O rápido crescimento das forças políticas de extrema-direita na Europa atingiu Portugal no domingo, com o partido Chega a aumentar o apoio e a quadruplicar o número de lugares no Parlamento”, lia-se no site da agência noticiosa.

A coligação AD, que junta PSD, CDS e PPM, obteve 79 mandatos, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 eleitos (18,06%).

A IL, o BE e o PAN mantiveram os mandatos, oito, cinco e um respetivamente. Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares, de seis para quatro mandatos.

Por apurar estão os quatro lugares da emigração, que o PS ganhou em 2022, com três mandatos.

ZAP // Lusa

3 Comments

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.