O plástico dos aterros sanitários nos EUA vale milhões (se for reciclado)

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Em 2019, os Estados Unidos enviaram uma média de 7,2 mil milhões de dólares de plástico para aterros, segundo estimativas do Departamento de Energia (DOE).

Ao considerar o preço de fabrico, comercialização e processamento de todo o material destruído, os custos para a economia são significativos, bem como o preço ambiental da poluição do plástico, relata um novo estudo, publicado a 22 de abril na Resources, Conservation and Recycling.

Enquanto os aterros são normalmente considerados a forma mais barata de eliminação de resíduos, essa ideia pode estar errada.

A criação de um sistema de reciclagem pode custar mais inicialmente, mas a longo prazo, uma economia circular de plásticos tem capacidade de poupar bastante dinheiro — entre 4,5 mil milhões e 9,9 mil milhões de dólares.

Neste momento, reciclar plástico é mais caro do que produzir plástico novo, o que significa que as empresas têm pouco incentivo para andar a procurar material reciclável nos aterros sanitários, segundo a Science Alert.

Em muitos aspetos, isso deve-se ao facto de os produtos petrolíferos serem tão baratos, mas a sua inexperiência esconde um custo mais profundo para o nosso planeta e, em última análise, para a nossa economia.

Segundo a análise mais recente da DOE, cerca de 44 milhões de toneladas de resíduos plásticos foram geridos por empresas privadas e públicas nos EUA em 2019.

Este valor é muito maior do que o número reportado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que registou cerca de 32 milhões de toneladas métricas de resíduos de plástico.

Em 2019, os investigadores estimam que apenas 5 por cento de todo o plástico foi reciclado. Entretanto, cerca de 86 por cento foi depositado em aterro.

“Os resíduos de plástico não são apenas uma questão ambiental. É uma questão de gestão de resíduos. É também uma questão de uso do solo, porque os aterros estão a fechar em muitas áreas”, explica Anelia Milbrandt, analista de energia no Laboratório Nacional de Energias Renováveis do DOE.

“O que fazemos com todo esse desperdício? Tem de ir parar a algum lado”, realça Milbrandt. Deixá-lo num aterro é a opção mais fácil, mas não só desperdiça dinheiro, como também desperdiça uma enorme quantidade de energia.

Em 2019, a análise do DOE encontrou resíduos plásticos que representavam cerca de 12% de todo o consumo de energia do setor industrial nos EUA.

O fabrico de polímeros sintéticos requer a produção de petroquímicos, que é uma fonte significativa de emissões de carbono.

Se apenas uma tonelada de plástico for reciclada, estimativas anteriores sugerem que seria possível poupar 13,8 barris de petróleo e 810 pés cúbicos de espaço num aterro.

De facto, a energia média “incorporada” no plástico é de cerca de 100 megajoules por quilograma — quase quatro vezes a energia contida no aço, que é um dos materiais com maior intensidade energética.

“A utilização de resíduos de plástico em vez de plástico virgem em produtos cria oportunidades de poupança de energia e de redução do impacto da energia incorporada”, escrevem os investigadores.

As novas estimativas baseiam-se em 44 estudos de composição de resíduos, em 37 estados dos EUA, com dados que abrangem mais de 1.776 aterros ativos, e 85 instalações de combustão.

A nível nacional, amostras em 2019 sugerem que os resíduos plásticos constituíam quase 14% de todos os resíduos sólidos urbanos.

Em alguns estados, como o Kansas, Nebraska ou Carolina do Norte, as percentagens de resíduos plásticos em aterros chegaram mesmo a 18%

De todos os produtos plásticos analisados, a maioria enquadrava-se nas categorias de película de plástico ou sacos de plástico. As garrafas de plástico eram mais suscetíveis a serem recicladas.

Estados populosos como a Califórnia, Texas e Florida enviaram a maior parte dos resíduos plásticos para aterros, enquanto que Nova Iorque enviava grande parte dos seus resíduos plásticos para os estados vizinhos, por pura falta de espaço.

Os autores do estudo esperam que os seus resultados ajudem a impulsionar mudanças políticas, para promover um sistema de reciclagem no país.

Desde que a indústria de reciclagem da China deixou de ficar com os resíduos plásticos dos Estados Unidos em 2018, os aterros sanitários dos EUA têm vindo a aumentar a um ritmo preocupante. O plástico inicialmente destinado a instalações de reciclagem tem sido enviado para aterros.

O investimento em novas tecnologias de reciclagem pode ajudar a desviar alguns desses resíduos dos aterros, bem como melhores técnicas de triagem. É possível escolher os materiais recicláveis de uma forma mais barata e eficiente.

“Acredito que os governos locais e os promotores da indústria verão o benefício deste estudo, que lhes dá informações para apoiar estas mudanças”, realça Milbrandt.

Entretanto, cada pedaço de plástico que não reutilizamos representa uma perda de dinheiro, uma perda de energia e uma perda de oportunidades.

Alice Carqueja, ZAP //

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