Chegou o Overshoot Day. A Terra entra hoje em sobrecarga e começa, assim, a consumir recursos do próximo ano. Quer isto dizer que, em 2023, a humanidade já consumiu tudo o que os ecossistemas podem regenerar num ano.
O Overshoot Day (Dia de Sobrecarga da Terra) ocorre quando a pressão humana excede as capacidades regenerativas dos ecossistemas naturais.
A partir desta quarta-feira, o planeta entra, oficialmente, em sobrecarga.
Os cálculos da organização internacional “Global Footprint Network” indicam que a Terra começa a consumir recursos naturais que só deviam ser usados no próximo ano.
Analisando as contas da pegada ecológica e a capacidade biológica – de gerar recursos – de mais de 180 países, a organização assinala este dia como o Overshoot Day – em que a necessidade de recursos ambientais por parte da humanidade excede a capacidade do planeta em os produzir.
Nos últimos anos tem havido uma tendência de estabilização do dia em que o planeta começa a viver a crédito. A organização nota que há um aparente ganho – avanço na data – de cinco dias em relação ao ano passado.
No entanto, a organização advertiu que, na realidade, do ano passado para este ano só se melhorou um dia. Os outros quatro dias devem-se a melhorias na edição das contas sobre a pegada do planeta.
Os responsáveis pelos cálculos admitem não poder dizer se a estabilidade dos últimos cinco anos se deve a um abrandamento económico ou a esforços deliberados de descarbonização. Mas alertam que, mesmo assim, a redução do excesso de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) é demasiado lenta, e que para atingir os objetivos preconizados por organizações da ONU era preciso reduzir no calendário o Dia da Superação da Terra em 19 dias por ano nos próximos sete anos.
Segundo a “Global Footprint Network”, que monitoriza esta mediação, este indicador tem aumentado ao longo de 50 anos: 29 de dezembro de 1970, 4 de novembro de 1980, 11 de outubro de 1990, 23 de setembro de 2000 e 7 de agosto de 2010.
Em 2020, esta data foi adiada por três semanas, devido ao efeito dos confinamentos motivados pela pandemia de covid-19, antes de regressar aos níveis anteriores.
Esta pegada ecológica é calculada a partir de seis categorias diferentes: agricultura, pastagens, áreas florestais necessárias para produtos florestais, áreas de pesca, áreas construídas e áreas florestais necessárias para absorver o carbono emitido pela combustão de ‘combustíveis fósseis’ e que está intimamente ligada aos padrões de consumo, principalmente nos países ricos.
A culpa é do “cartão de crédito”
Este ano, o Dia é assinalado em conjunto com a Eslovénia. Citado num comunicado o diretor executivo da “Global Footprint Network”, Steven Tebbe, alerta para o facto de que manter de forma persistente o uso do “cartão de crédito” leva a situações cada vez mais notórias de ondas de calor, incêndios florestais, secas e inundações.
Aumentar as fontes globais de eletricidade de baixo teor de carbono, de 39% para 75%, faria com que o dia passasse a ser assinalado 26 dias depois, e reduzir para metade o desperdício de alimentos faria avançar mais 13 dias.
Num comentário ao Dia da Sobrecarga do Planeta, a organização ambientalista Zero apela a uma aceleração das mudanças para se inverter a destruição do planeta.
A Zero salienta ainda outras formas de “empurrar” para mais tarde a data do cartão de crédito: a redução para metade da pegada de carbono faria com o dia da sobrecarga apenas acontecesse no início de novembro.
A organização referiu ainda que, se as pessoas reduzissem a pegada ligada à mobilidade em 50%, o cartão de crédito ambiental ia para a segunda semana deste mês. Além disso, seria acionado apenas no dia 19 se o consumo de carne fosse reduzido para metade.
ZAP // Lusa