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O ouro registou um novo máximo – mas o “fungo da lagarta” vale mais

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cordycepssinensis.org

Yartsa gunbu, o fungo da lagarta

Há um fungo nos Himalaias que é mais valioso do que o ouro – e, se não for cuidado devidamente, pode tornar-se ainda mais raro, ou até desaparecer.

O preço do ouro atingiu, esta terça-feira, um novo máximo de sempre.

Quando eram 10h30 em Lisboa, o ouro atingiu 2.266,85 dólares por onça (0.02835 quilogramas), mais 1,3% do que no final da sessão anterior.

O metal dourado tem registado sucessivos máximos nas últimas semanas, estando a passar pela maior valorização dos últimos 56 anos.

Ainda assim, há um fungo a valer muito mais.

O valioso yartsa gunbu

O yartsa gunbu é um fungo especial que só cresce nas zonas altas dos Himalaias, na Índia, Nepal, Butão e China.

Como refere uma reportagem da New Scientist, publicada esta terça-feira, o yartsa gunbu, também conhecido como fungo da lagarta, “vale mais do que o seu peso em ouro” e pode ser o ouro da medicina.

O yarsta só cresce nas zonas altas dos Himalaias, na Índia, Nepal, Butão e China, e, de acordo com a revista, o mercado global deste fungo vale – em estimativa – cerca 10 mil milhões de euros.

“A crença é a chave”

Vários investigadores relataram potenciais benefícios terapêuticos, no yartsa: por exemplo, para pessoas em diálise;  para doenças cardiovasculares; do fígado, dos rins. Além disso, teorizam que este fungo tem possíveis efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e antivirais.

As origens incomuns do yartsa ajudam a reforçar essa crença.

Este fungo “brota” quando larvas de borboletas são infetadas pelo fungo parasita Cordyceps, que envolve as lagartas com o seu micélio semelhante a raízes – daí o nomes fungo da lagarta.

Quando a lagarta emerge para morrer, o fungo floresce com um talo semelhante a uma agulha.

Nicolas Merky / Wikimedia

Yartsa gunbu, o fungo da lagarta

Para já, ainda não há ciência que comprove que este fungo é o ouro da medicina, mas Tashi Dorji, especialista em economias do Himalaia no Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas, diz que “há verdade suficiente para fazer as pessoas acreditarem”, acrescentando que “a crença é a chave”.

“Fungo da (e para a) lagarta”

Vários cientistas têm aclamado o “fungo da lagarta” como afrodisíaco e há até quem lhe chame o “viagra dos Himalaias”.

De acordo com a New Scientist, já existem provas entre o aumento da resistência física e as infusões deste produto.

Tashi Tsering – um produtor desta “medicina” – explica à revista os benefícios deste chá que é uma mistura do fungo com 16 ervas raras e plantas medicinais: “Podes tomar, vai afetar o teu corpo (…) Sexo mais longo. Mais energia“.

Há preocupações ambientais

A colheita desmedida do yartsa tem, contudo, um impacto ecológico bastante negativo, naquela região que já aquece ao dobro da taxa média global. Além disso, as colheitas deste fungo têm levado à poluição dos rios e à desflorestação.

E o ciclo negativo é incontrolável: Quanto mais a região aquecer, menos yartsa irá crescer, uma vez que este é um fungo que carece da humidade da chuva e da neve.

Um estudo de 2018, publicado na PNAS, sugere que o fungo da lagarta já está a migrar para altitudes mais altas para evitar o calor.

Nos últimos 15 anos, o yartsa gunbu diminuiu cerca de 30%

A elevada procura, a deterioração do habitat e as mudanças climáticas contribuíram para que a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) tenha classificado, em 2020, o yartsa gunbu como uma espécie vulnerável.

Miguel Esteves, ZAP //

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