O nosso corpo está a ficar cada vez mais “preguiçoso” (e a gastar menos energia)

Uma equipa de investigadores escoceses mediu a quantidade de energia que as pessoas gastam enquanto descansam — e descobriu uma surpreendente tendência de declínio ao longo dos últimos 30 anos.

Pode não parecer, mas enquanto descansamos, estamos a gastar energia. É essencial manter a atividade do organismo, desde a simples respiração ao funcionamento do sistema nervoso, mesmo numa situação de repouso.

No entanto, a quantidade de energia que gastámos durante o descanso parece estar a diminuir ao longo dos anos. Embora os investigadores ainda não saibam a razão, tudo indica que pode estar relacionado com a obesidade.

Um conjunto de investigadores da Universidade de Aberdeen, na Escócia, mediu a quantidade de energia que as pessoas gastam enquanto descansam. Surpreendentemente, o estudo revelou uma tendência de declínio ao longo dos últimos 30 anos.

Desde o início dos anos 90 que o gasto energético tem vindo a diminuir em cerca de 7,7% para os homens e 5,4% para as mulheres. As suspeitam recaem para as alterações na nossa dieta, que tem vindo a mudar consideravelmente nos últimos tempos.

Contudo, numa primeira fase da investigação, foi importante perceber se a diminuição do gasto de energia provinha de um estado de atividade ou de repouso.

Uma vez que levamos vidas cada vez mais sedentárias, com pouca prática de exercício físico, seria de esperar que essa diminuição de gasto energético ocorresse durante a fase de atividade.

Para realizar o estudo, os investigadores utilizaram um método chamado “Técnica de Água Duplamente Marcada”, e recorreram a uma base de dados com cerca de 6000 medições.

Neste método, os átomos de oxigénio e hidrogénio da água são substituídos por átomos similares (designados isótopos), que estão “marcados” e que, por isso, permitem fazer o seu rastreio.

Os participantes do estudo, publicado em abril na revista Nature Metabolism, consumiram “água marcada” durante um determinado período.

Posteriormente, os investigadores analisaram a urina dos participantes e mediram quanto tempo é que estes demoraram a eliminar as moléculas de água marcadas através da urina, tanto numa situação de atividade, como durante o repouso.

Os resultados foram intrigantes — a diminuição do gasto de energia acontecia precisamente durante o descanso.

“Ao analisar as medições de gastos totais de energia com o gasto de energia em repouso, foi possível perceber que esta diminuição se deve a mudanças no gasto de energia durante o repouso”, disse John Speakman, primeiro autor do estudo, numa nota de imprensa da Universidade de Aberdeen.

Por outras palavras, “O declínio deve-se a uma redução na energia que gastamos quando estamos em repouso.”

A razão por detrás desta diminuição permanece (ainda) um mistério para a ciência. No entanto, estudos preliminares acreditam que mudanças na nossa dieta poderão ser as principais responsáveis.

“Segundo um estudo feito com ratinhos, conseguimos concluir que a composição de gordura na sua alimentação afetava o seu metabolismo”, disse Speakman. Tal significa que alimentos ricos em gordura afetam a taxa com que gastamos energia.

Se os mesmos efeitos forem observados em humanos, isto pode significar que a diminuição de gasto energético se deve a um aumento no consumo de gorduras.

A obesidade é, sem dúvida, um importante problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a obesidade quase triplicou desde 1975.

As taxas de prevalência têm vindo a aumentar em todas o mundo, desde os países mais ricos aos mais pobres.

Mais de mil milhões de pessoas no mundo são obesas, incluindo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças, segundo as mais recentes estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A obesidade tem efeitos consideráveis no coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo.

É, por isso, essencial aprofundar esta investigação e compreender a verdadeira razão por detrás desta diminuição na taxa de metabolismo. Embora o cenário possa não parecer animador, se a culpa for da dieta, estamos sempre a tempo de mudá-la.

 

Patrícia Carvalho, ZAP //

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