O misterioso povo da Ilha de Páscoa inventou do zero a sua própria linguagem

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Sílvia Ferrara, INSCRIBE / RESOLUTION ERC

Tabuletas de Rongo Rongo analisadas pela equipa de Sílvia Ferrara

Um estudo recente revela que inscrições em rongorongo encontradas em várias tabuletas em Rapa Nui provavelmente antecedem o contacto europeu, sugerindo que pode ser um sistema de escrita inventado de forma independente.

Além das suas enigmáticas estátuas moai, a ilha de Rapa Nui, ou Ilha de Páscoa, é também conhecida pelas misteriosas tabuletas com inscrições em rongorongo, a escrita pictográfica local descoberta pelos europeus no século XIX.

A escrita rongorongo, composta por glifos únicos, encontra-se envolta em mistério, e nunca foi decifrada. Está presente num pequeno número de artefactos, guardados em instituições espalhadas pelo mundo — incluindo o Museu Nacional de História Natural do Smithsonian.

Um novo estudo revelou agora que uma das tabuletas de Rapa Nui inscrita com os misteriosos glifos rongorongo terá sido criada muito antes da chegada dos europeus à ilha, em 1864.

A conclusão do estudo, publicado no início deste mês na Scientific Reports, sugere que o rongorongo poderá ser uma das raras linguagens da história criadas de forma independente.

No decorrer do estudo, uma equipa de investigadores da Universidade de Bolonha liderados pela filologista Silvia Ferrara, realizou testes por radiocarbono para datar quatro artefactos rongorongo de um convento católico em Roma.

Os investigadores descobriram que três artefactos analisados datam dos séculos XVIII ou XIX, mas, surpreendentemente, uma das tabuletas, datada entre 1493 e 1509, antecede a chegada dos europeus à ilha.

A descoberta desafia ideias anteriores sobre a origem destes escritos e apoia a teoria de que foi desenvolvido independentemente da influência europeia.

Além disso, os glifos do rongorongo não têm qualquer semelhança com as escritas pictográficas europeias, o que reforça a tese de que são um sistema de escrita desenvolvido de forma independente.

“Falando historicamente, se nos inspiramos num dado sistema de escrita, então vamos manter-nos o mais próximo possível desse sistema, diz Silvia Ferrara ao Live Science.

Curiosamente, a tabuleta do século XV é feita de uma espécie de árvore não nativa de Rapa Nui, sugerindo que pode ter sido madeira à deriva, o que também induz discussões sobre a história ecológica da ilha.

A questão de saber se o rongorongo é uma proto-escrita ou um sistema de escrita plenamente desenvolvido permanece em aberto, e a comunidade académica debate ainda o seu propósito e função.

Alguns filologistas acreditam que a escrita era exclusiva da elite da ilha, e o seu conhecimento foi-se perdendo gradualmente, até ao século XIX, devido a um drástico declínio populacional na ilha.

Embora o estudo não ajude diretamente a decifrar a escrita rongorongo, fornece informações valiosas sobre a sua idade e origem, e marca um passo significativo no entendimento de um dos poucos sistemas de escrita potencialmente inventados de forma independente na história humana.

ZAP //

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