Desde a sua descoberta, em 1901, a Máquina de Anticítera tem fascinado investigadores do mundo todo. Só recentemente o seu funcionamento foi desvendado, mas a sua finalidade ainda era um mistério.
Segundo um estudo recente, que levou mais de uma década, o mecanismo de Anticítera, datado de 87 a.C., não era afinal utilizado pelos astrónomos para prever eclipses.
Na semana passada, um grupo de investigadores anunciou o resultado da análise de pequenas inscrições encontradas em várias partes do mecanismo. Com algumas letras a medir meros 1,2 mm, foram necessárias técnicas especiais para revelar o texto escrito nas 82 diferentes partes que sobreviveram do mecanismo.
O que os investigadores revelaram é fascinante: os 3.500 caracteres decifrados mostram que o mecanismo não era apenas um computador para calcular eclipses e a posição dos astros, mas sim uma ferramenta para prever o próprio futuro, considerando o excerto sobre a cor de um futuro eclipse e o seu significado.
“Ainda não estamos bem certos de como interpretar isto, mas pode ser que remeta a sugestões de que a cor de um eclipse era algum tipo de presságio ou sinal”, conta Mike Edmunds, professor de astrofísica na Universidade Cardiff.
“Certas cores podem indicar um futuro melhor do que outras. Se for assim, e se estivermos a interpretar isto corretamente, então este é o primeiro caso de um mecanismo com uma referência real à astrologia em vez de astronomia”, conclui ele.
Os investigadores apontam que, mesmo assim, o objetivo principal do mecanismo era astronómico, e não astrológico – era como um livro de estudo.
“Não era uma ferramenta de pesquisa, algo que um astrónomo usaria para fazer cálculos, ou mesmo um astrólogo para fazer prognósticos, mas algo que usaríamos para ensinar sobre o cosmos e o nosso lugar no mesmo”, acrescenta Alexander Jones, um historiador da Universidade Nova Iorque.
“É como um manual de estudo de astronomia como era entendida na época, que ligava os movimentos do céu e dos planetas às vidas dos antigos gregos e ao seu ambiente”.
Outras coisas que os investigadores descobriram era que, aparentemente, o mecanismo foi construído na ilha de Rodes, e não foi o único.
Pequenas variações nas inscrições sugerem que pelo menos duas pessoas estiveram envolvidas na criação do instrumento, mas é provável que outros tenham sido recrutados para fazer as engrenagens.
Com tantas cabeças envolvidas, seria provavelmente resultado da produção de uma pequena oficina, e não de uma única pessoa.