Nos mares de todo o mundo, os níveis de pH estão a baixar e os cientistas estão cada vez mais frustrados com o facto de o problema não estar a ser levado suficientemente a sério.
Um artigo publicado na segunda-feira por cientistas do Plymouth Marine Laboratory (PLM), da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa) e da Cimers (Universidade Estatal do Oregon), mostra que a acidificação dos oceanos está a acontecer mais rapidamente do que se pensava.
Este aumento do pH da água está a contribuir para um quadro local e global que preocupa cada vez mais os cientistas. Os resultados mostram que a acidificação dos oceanos está a aumentar a um ritmo alarmante.
Frequentemente designada como o “irmão gémeo” da crise climática, a acidificação dos oceanos é causada quando o dióxido de carbono é rapidamente absorvido pelos oceanos, onde reage com as moléculas de água, provocando uma diminuição do pH da água do mar.
Parte do problema para os cientistas em chamar a atenção do mundo é que não se consegue ver os níveis de pH no mar na praia perto de nós.
“É difícil ver os efeitos biológicos, porque vão demorar muito tempo a acontecer”, diz Steve Widdicombe, diretor científico do PML e uma das principais vozes mundiais sobre a acidificação dos oceanos, citado pelo The Guardian.
“Temos de saber diferenciar os impactos da acidificação e os impactos da temperatura e poluição. É muito difícil gerar ímpeto e dinâmica nos responsáveis políticos para que tomem uma ação contra a acidificação”, explica Widdicombe.
Um vídeo recentemente publicado pela NOAA, que compara um pterópode a nadar em água com um nível de pH normal e ao lado um pterópode sujeito a níveis elevados de CO2 durante duas semanas, dá-nos uma ideia do impacto imediato da acidificação dos oceanos na vida marinha.
No primeiro caso, a criatura marinha exibe a sua concha transparente intocável e consegue nadar sem dificuldades, enquanto que no segundo, a concha está parcialmente dissolvida e fissurada, e o pterópode tem muita dificuldade em movimentar-se.
Atraso na resposta adequada
Os países têm a obrigação de combater a acidificação dos oceanos consagrada em acordos internacionais, incluindo, mais recentemente, o Quadro Mundial para a Biodiversidade (KM-GBF), acordo que tem por objetivo travar e inverter a perda de biodiversidade.
No entanto, enquanto os políticos não dispõem dos recursos necessários para resolver o problema, ou se limitam a hesitar em pôr em prática um plano, os operadores comerciais estão a oferecer soluções alternativas.
A geoengenharia dos oceanos está a tornar-se um grande negócio. As empresas estão a concentrar-se em diferentes formas criadas pelo homem para remover o carbono dos mares, sendo talvez a mais desenvolvida, a melhoria da alcalinidade dos oceanos.
Neste caso, é adicionada uma solução alcalina à água do mar para aumentar o nível de pH. Feito a um nível controlado e local, como nos tanques das maternidades de ostras, pode ser eficaz.
Jessie Turner, diretora executiva da OA Alliance — Aliança para o Combate à Acidificação dos Oceanos, receia que a geoengenharia possa também fazer com que as pessoas percam de vista o óbvio.
“Embora seja importante explorar uma agenda de investigação em torno das intervenções de geoengenharia, a principal solução para a acidificação dos oceanos é a redução das nossas emissões de CO2”, afirma Turner.
Para além do objetivo principal, reduzir o CO2, há outras coisas que podem ser feitas para combater a acidificação dos oceanos, incluindo a limitação da poluição orgânica na água.
Os cientistas que trabalham neste domínio estão a ficar cada vez mais frustrados com a falta de urgência em torno do assunto. “No fim de contas, sabemos que o CO2 está a aumentar, o pH está a diminuir e esta é uma questão urgente de que as pessoas estão a desvalorizar”, diz Turner.