Em 2021, Sam Altman criou uma empresa que usa a biometria para garantir a segurança e exclusividade dos utilizadores. Mas os especialistas encaram a cedência dos dados biométricos como uma preocupação. A identidade das pessoas está em risco.
A Worldcoin, de Sam Altman, o mesmo criador do ChatGPT, foi criada em 2021, com o objetivo distribuir riqueza de forma justa e equitativa a todos os humanos, através de um conceito de “economia online”.
O método que a Worldcoin desenvolveu para registar os utilizadores envolve a digitalização da íris, mas levanta muitas questões éticas.
O processo visa garantir que cada utilizador é único, não tem contas duplicadas e trata-se, de facto, de um humano.
A empresa utiliza uma tecnologia chamada Orb para digitalizar as íris, convertendo a imagem num código numérico cifrado denominado World ID.
Espanha, por exemplo, foi o país europeu onde a Worldcoin teve mais sucesso. De acordo com El Confidencial, a empresa conseguiu recolher as íris de mais de 150 mil pessoas, no espaço de um ano.
Román Ramírez, especialista em cibersegurança, em declarações ao jornal, manifestou preocupações acerca da falta de segurança e privacidade dos dados biométricos – as propriedades únicas e mensuráveis de cada indivíduo, usados aqui para a verificação automática da identidade -, sublinhando que a íris, o ADN e as impressões digitais podem constituir alvos de risco.
“É surpreendente que haja pessoas dispostas a fazer isto. Acredito que é porque não têm perceção do risco e, quando a tiverem, talvez seja tarde demais, pois não compreendem bem o que isso implica”, disse.
“Não importa que transformem a imagem num código numérico, depois a cifrem ou encriptem e tudo o que queiram contar. Se eu posso usar o meu padrão de íris, tu tens que poder lê-los e compará-los em algum momento. Senão, não poderia usá-los, porque tem que existir alguma verificação para confirmar… E a conversa acaba aí”, explicou Román Ramírez.
A Worldcoin é uma iniciativa que, desde a sua criação, levanta questões sobre as verdadeiras intenções. Foram propostos vários usos para a sua tecnologia, desde votar em eleições até realizar transações financeiras.
Apesar do discurso altruísta, há cada vez mais críticas. Recentemente, a Forbes denunciou algumas práticas da Worldcoin, incluindo situações de pressão sobre os empregados, para captar mais utilizadores, e promoções enganosas em países em desenvolvimento. Também foi revelado que a empresa nem sempre obteve um consentimento adequado das pessoas para digitalizar as suas íris.
Como nota o El Confidencial, de um ponto de vista legal, a chegada da Worldcoin à Europa também apresenta desafios relacionados com a Proteção de Dados. Especialistas, contactados pelo jornal, dizem que a empresa poderá enfrentar um escrutínio rigoroso devido à natureza sensível dos dados biométricos.