O comboio da discórdia vai atravessar a Amazónia (e já é considerado uma catástrofe ambiental)

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No Brasil, a construção de uma linha férrea de 933 quilómetros no meio da Amazónia tornou-se o centro de uma batalha entre ambientalistas e o setor agrícola.

Chama-se Ferrograo ou EF-170 e é um projeto que pretende avançar com a construção de uma linha férrea, de 933 quilómetros, no meio da Amazónia.

Este ambicioso plano tem como objetivo acelerar a exportação da colheita de cereais no Brasil, um dos principais produtores agrícolas do mundo, que se encontra atualmente numa situação económica delicada.

Ao contrário do setor agrícola, os ambientalistas não estão contentes com este projeto. Afirmam que, além de prejudicar o ambiente, terá impacto em pelo menos 16 reservas indígenas numa área já muito afetada pela desflorestação.

Apesar de ter dado os primeiros passos em 2006, os ambientalistas conseguiram atrasá-lo. Em março, o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal de Justiça, decidiu bloqueá-lo com o argumento de de que iria alterar os limites territoriais do Parque Nacional Jamanxim, uma área preservada de quase 9.000 quilómetros quadrados.

No entanto, segundo o RT, o Governo de Jair Bolsonaro está a tentar avançar a todo o custo, e cola a onda de acusações a uma guerra comercial internacional cujo único objetivo a arruinar o setor agrícola brasileiro.

Com um investimento de cerca de 4,6 mil milhões de dólares, a concessão para a sua construção deverá ser atribuída no próximo ano. O objetivo é que esteja em funcionamento em 2030.

A ferrovia vai ligar Sinop, o coração da região produtora de soja do Mato Grosso, ao porto de Miritituba no rio Tapajós no Pará, de onde os grãos serão enviados para a China e outros mercados internacionais.

A concretizar-se a construção da linha férrea, o comboio vai substituir os camiões ao mesmo tempo que impede que a colheita seja transportada para portos no sul e sudeste do país, a mais de 2.000 quilómetros de distância.

Além de impulsionar a economia brasileira, o Governo argumenta que o projeto vai ter um significativo impacto ambiental, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa até 50%.

No entanto, um recente estudo da The Climate Policy Initiative e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro concluiu que os benefícios do mercado ferroviário vão incentivar os agricultores a expandir a produção, colocando sérias ameaças à floresta amazónica.

A construção de Ferrograo é comparada pelos ambientalistas a “outras catástrofes ambientais e de direitos humanos” que têm sido realizadas no país, como a Estrada Transamazónica (BR-230), que tem quase 5.000 quilómetros de comprimento, ou a gigantesca barragem hidroelétrica de Belo Monte, erguida no coração da selva.

ZAP //

3 Comments

  1. Definitivamente não conhecem nada do Brasil, quanto ao recente estudo da The Climate Policy Initiative e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, este não poderia ser diferente, o primeiro não é brasileiro e o segundo financiado por organizações estrangeiras.

    • Exatamente. O lobby norte americano na década de 60 e 70 acabaram com as ferrovias do Brasil. Impondo um modelo de rodovias (auto estradas). Caminhões em excesso dão lentidão e deixam nossas rodovias mais perigosas. São 65 mil mortes no trânsito todos os anos. Em um país de dimensões continentais é preciso investir em linhas férreas.

  2. Por uma vez eu até concordo… não com a localização mas comboio… em vez de camiões. Penso eu que camiões poluem muito mais que o comboio! Acho que não estou enganado… até porque o comboio será eléctrico.
    Agora o custo, duvido muito… aqui no Brasil comecei a reparar que anunciam um custo e depois custa 2 vezes mais… ou mais…

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