O campo magnético da Terra está a enfraquecer na América do Norte — possivelmente devido a uma mudança nos polos geomagnéticos, afirmam cientistas chineses. Estudos anteriores associaram estas mudanças ao colapso da civilização Maia e à queda de civilizações na Síria e Irão há 4 mil anos.
A Terra está rodeada por um imenso campo magnético chamado magnetosfera. Este campo geomagnético, uma espécie de barreira natural que protege a Terra da radiação cósmica, pode criar perturbações no sistema atmosférico.
De acordo com um estudo realizado por investigadores chineses, na América do Norte esta barreira natural está a enfraquecer a um ritmo invulgarmente rápido; sobre o hemisfério oriental, incluindo a China, o campo geomagnético está a fortalecer-se.
Segundo o South China Morning Post, os cientistas ainda estão a tentar determinar a causa destas alterações, mas uma teoria inicial aponta para que o fenómeno possa estar relacionado com uma mudança dos polos geomagnéticos do hemisfério ocidental para o oriental.
“O campo geomagnético é uma barreira natural para proteger a Terra”, escreveu a equipa de investigadores, liderada pelo professor Fang Hanxian, investigador da Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa da China, num artigo publicado no mês passado na Review of Geophysics and Planetary Physics.
O campo geomagnético impede que os raios cósmicos mortais cheguem ao solo, desempenhando um papel crucial na manutenção da estabilidade ambiental, explica a equipa de investigadores.
Em 2018, um estudo conduzido por cientistas da Universidade Nacional Autónoma do México, e publicado na Journal of Archaeological Science: Reports, encontrou evidências de décadas de baixa intensidade do campo geomagnético sobre a Mesoamérica — imediatamente antes do colapso da Civilização Maia.
Num outro estudo, conduzido em 2006 por investigadores do Instituto de Física Planetária de Paris e publicado na Earth and Planetary Science Letters, os investigadores descobriram que mudanças súbitas no campo magnético poderiam estar ligadas à queda de antigas civilizações no Irão e na Síria há cerca de 4000 anos.
Alguns cientistas afirmam que um enfraquecimento do campo magnético da Terra não só aumenta a radiação que atinge o nosso planeta, como também conduz a perturbações no sistema atmosférico causadas por raios cósmicos, que podem intensificar fenómenos climáticos extremos, como secas ou furacões.
Porém, como salienta Fang Hanxian no seu estudo, na perspetiva dos militares o campo magnético da Terra é um importante recurso estratégico com amplas aplicações em vários domínios.
Com efeito, os militares podem utilizar o campo magnético da Terra para comunicações de ultra-longa distância, deteção por radar e sistemas de navegação de mísseis.
Também as naves espaciais e os satélites podem usar este campo como um “guarda-chuva” protetor para evitar a devastação provocada pelas tempestades solares, nota o SCMP.
A equipa de Fang Hanxian usou modelos e dados recentes para reconstruir as alterações na força do campo magnético desde 1900. Descobriram que, entre 1930 e 1990, a intensidade do campo magnético na América do Norte aumentou efetivamente e era mais elevada do que em muitas outras regiões do mundo.
No entanto, nos últimos 30 anos, registou-se uma inversão significativa: em 2020, a intensidade do campo magnético nesta região caiu para um nível pouco acima da média global.
Esta mudança é excecional de uma perspetiva global.
“Para além do enfraquecimento do campo magnético na América do Norte, a força noutras regiões importantes apresenta uma tendência crescente“, nota o investigador. Estas regiões incluem a Eurásia, a África, a Austrália e o Oceano Atlântico Norte, sendo que África regista o crescimento mais rápido.
A dimensão e a posição destas zonas de anomalias magnéticas estão em constante mudança. Segundo Fang Hanxian, é provável que estas alterações estejam relacionadas com a deriva dos polos magnéticos.
Ao longo do último século, o polo magnético do hemisfério norte tem vindo a deslocar-se para leste a uma velocidade de cerca de 10 km por ano. No entanto, este processo acelerou significativamente nos últimos tempos.
“Depois de 2000, a velocidade excedeu os 50 km por ano, ultrapassando largamente a velocidade de movimento do polo magnético no hemisfério sul”, salientam os autores do estudo no seu artigo.
A região mais fraca do campo magnético da Terra está atualmente localizada no Oceano Atlântico, a leste da América do Sul. Várias agências espaciais, incluindo a Nasa, estão a monitorizar de perto esta área.
Não tarda e o Trump culpa os chineses.