E se um velociraptor estiver a ler esta notícia?

ZAP // Dall-E-2

Quão inteligentes eram os dinossauros? O debate eterniza-se e ganha adeptos de ambos os lados da barricada.

Se os grandes dinossauros não tivessem sido extintos, alguma das suas espécies se teria tornado dominante na Terra dos nossos dias?

E num qualquer universo paralelo, haverá um gigante esverdeado inteligente a ler relaxadamente esta notícia?

No limite,  poderia até ter havido uma civilização inteligente antes dos humanos?

O velho debate sobre a inteligência dos dinossauros ressurgiu agora, graças a dois novos estudos publicados no Journal of Comparative Neurology.

Os estudos, conduzidos por Suzana Herculano-Houzel, investigadora do Vanderbilt Brain Institute, e Anton Reiner, do University of Tennessee Health Science Center, oferecem visões contrastantes sobre as habilidades cognitivas destas criaturas pré-históricas.

A investigação de Suzana Herculano-Houzel, publicada em janeiro, centrou-se no número de neurónios do pálio dos dinossauros, principal órgão e centro do sistema nervoso em todos os animais vertebrados, ligado a funções cognitivas avançadas.

Segundo alguns estudos, é o número de neurónios existentes nesta região, e não o tamanho do cérebro, que determina a capacidade cognitiva de um animal.

Ao comparar a relação entre o tamanho do cérebro, o número de neurónios e o tamanho do corpo nas espécies atuais de aves e répteis e projetando-os em  fósseis de dinossauros disponíveis, a investigadora conclui que um dinossauro de grande porte, como o Tyrannosaurus, poderia ter 2 a 3 mil milhões de neurónios no seu pálio.

Esta estimativa equipara o T-rex a um babuíno, sugerindo que os grandes dinossauros podem ter sido criaturas altamente inteligentes, possivelmente com capacidade para usar ferramentas e planear o futuro.

“Os T-rex tinham tudo o que é preciso, em termos do número de neurónios, para ter capacidades cognitivas semelhantes às de um babuíno ou uma baleia dos nossos tempos”, diz a investigadora, citada pela Scientific American.

Anton Reiner, cujo estudo foi publicado em abril, tem uma opinião diferente. O investigador considera que é a arquitetura do cérebro, não apenas o número de neurónios, que determina a inteligência de uma dada criatura — e este era o calcanhar de Aquiles dos dinossauros.

Segundo Reiner, a organização do cérebro das aves, consideradas descendentes contemporâneas dos dinossauros, é menos compacta, o que implica que a expansão das capacidades cerebrais para lá de um certo ponto tornaria a estrutura mais complexa e menos eficiente do que a dos mamíferos.

Reiner  sugere também que se os dinossauros tivessem uma arquitetura cerebral semelhante à dos humanos, poderiam ter sido inteligentes, mas não tanto como um Homo sapiens.

Numa outra perspetiva, Giorgio Vallortigara, neurobiólogo da Universidade de Trento, em Itália, critica a definição de inteligência baseada apenas no cérebro e no comportamento humano.

Segundo Vallortigara, a comunicação entre neurónios no cérebro das aves não é necessariamente menos eficiente do que no dos mamíferos, e pode mesmo, por vezes, superá-la em certas tarefas cognitivas.

Estas discussão, aparentemente académica, pode fornecer informações essenciais sobre a forma como 350 milhões de anos de história evolutiva afetou o desenvolvimento das capacidades cognitivas.

O debate está aceso, e longe de resolvido.

Mas, em última análise, as tentativas de avaliar a inteligência dos dinossauros podem dizer mais acerca das nossas próprias visões antropocêntricas da inteligência do que sobre as reais capacidades cognitivas destes animais extintos.

Armando Batista, ZAP //

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