Novo tratamento contra cancro de pulmão pode duplicar tempo de vida

Carol Garcia / AGECOM / GOVBA

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Um novo tratamento contra o cancro de pulmão pode mais do que duplicar o tempo de vida de alguns pacientes, revelou um estudo conduzido por cientistas americanos e europeus.

Segundo os investigadores, uma nova substância, chamada Nivolumab, impede que as células cancerígenas se escondam dos sistemas de defesa do corpo humano, deixando o tumor mais vulnerável à ação dos anticorpos.

Os cientistas chegaram aos resultados após conduzirem um estudo com 582 pessoas. As descobertas foram apresentadas num encontro da American Society of Clinical Oncology e são descritas como “uma esperança real para os pacientes“.

O cancro de pulmão é o que mata em todo o mundo: cerca de 1,6 milhões por ano.

Como a doença é de difícil tratamento e normalmente tem um diagnóstico tardio, as hipóteses do paciente resistir muito tempo são significativamente reduzidas.

Defesas naturais

O sistema imunitário humano é treinado para combater infeções, mas também ataca partes do corpo quando elas apresentam um mau funcionamento – como é o caso do cancro.

No entanto, os tumores apresentam alguns “truques” para forma sobreviver a esses ataques naturais.

Eles produzem uma proteína chamada PD-L1, que desliga qualquer parte do sistema imunitário que tenta atacá-los.

A Nivolumab faz parte de uma série de substâncias chamadas “inibidores de checkpoint” que estão a desenvolvidas por laboratórios farmacêuticos.

O medicamento impede que as células cancerígenas “desliguem” o sistema imunitário, deixando-as vulneráveis ao ataque do próprio corpo humano.

O estudo, conduzido na Europa e nos Estados Unidos, foi realizado em pacientes com cancro de pulmão em estágio avançado e que já tinham recorrido a outros tipos de tratamento.

Aqueles que se submetiam ao tratamento comum viviam, em média, 9,4 meses após iniciar a terapia, enquanto que os que recebiam Nivolumab viviam, em média, mais 12,2 meses.

No entanto, alguns pacientes tiveram um desempenho espetacular: os que tinham tumores que produziam altos níveis de PD-L1 chegaram a viver por mais 19,4 meses.

Mudança de paradigma

Os dados foram apresentados pelo laboratório farmacêutico americano Bristol-Myers Squibb.

Responsável pela pesquisa, Luis Paz-Ares, do Hospital Universitário Doce de Octubre, em Madrid, afirma que os resultados “representam um marco no desenvolvimento de novas opções de tratamento contra o cancro de pulmão”.

“Nivolumab é o primeiro inibidor de PD-L1 a mostrar um avanço significativo na sobrevivência média na terceira fase do estudo em pacientes com cancro de pulmão em estágio avançado”.

Outras empresas e instituições têm vindo a testar substâncias similares. Martin Forster, do Instituto do Cancro da University College London (UCL), está a testar algumas delas.

“A notícia é muito animadora, essas drogas vão representar uma mudança de paradigma sobre como tratamos cancro de pulmão”, afirmou à BBC.

Martin Foster descreve que, atualmente, se a quimioterapia fracassar, os índices de sobrevivência do paciente são “muito baixos”. “No entanto, naqueles que respondem à imunoterapia parece haver um controlo mais prolongado da doença. Trata-se de uma grande mudança no tratamento contra o cancro de pulmão”, acrescentou.

Esperanças reais

A organização Cancer Research UK afirma que usar o próprio sistema imunitário do paciente para combater a doença seria uma “parte essencial” do tratamento contra o cancro de pulmão.

Em entrevista à BBC, Alan Worsley, porta-voz da instituição, afirma que o estudo “mostra que ao bloquear a capacidade do cancro de pulmão de se esconder das células do sistema imunitário, este pode ser mais eficiente do que os atuais tratamentos quimioterápicos”. “Avanços como este dão esperanças reais a pacientes com cancro de pulmão, que até agora tinham poucas opções”, considera.

Os investigadores esperam que essas drogas possam funcionar em diferentes tipos de cancro. A Nivolumab, por exemplo, foi aprovada nos Estados Unidos para tratar o melanoma (cancro de pele).

Mas ainda há questões a serem respondidas.

As consequências de longo prazo de modificar o sistema imunitário ainda são desconhecidas e o melhor caminho para entender quem responderá ao tratamento também não é sabido.

Os tratamentos também tendem a ser muito caros, o que representará um desafio aos sistemas de saúde dispostos a oferecê-los.

ZAP / BBC

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