Novo método permite armazenar vacinas sem refrigeração (durante meses)

Os investigadores do CSIRO da Austrália demonstraram uma nova forma de proteger a integridade das vacinas das altas temperaturas.

Um estudo, publicado em fevereiro, demonstrou que o método mantém as vacinas viáveis a temperaturas até 37 graus Celsius, durante três meses.

“A vacinação é sem dúvida uma das intervenções médicas mais eficazes, salvando milhões de vidas todos os anos”, explica Daniel Layton, investigador do projeto.

“No entanto, a entrega de vacinas, particularmente aos países em desenvolvimento, é um desafio, porque muitas vezes não dispõem das cadeias de abastecimento de frio necessárias para manter a vacina viável“, acrescenta.

A Organização Mundial de Saúde estimou que mais de 50% das vacinas vão para o lixo todos os anos. E um dos principais contribuintes para esse desperdício é o desafio de manter as vacinas a temperaturas frias estáveis.

Segundo o New Atlas, a maioria das vacinas precisa de ser mantida dentro de uma gama de temperaturas de 2-8 °C, para evitar a degradação.

Algumas vacinas, particularmente as novas vacinas de mRNA, precisam de ser mantidas a temperaturas ainda mais frias, abaixo de zero.

A nova forma de armazenar vacinas utiliza um material poroso, dissolúvel e cristalino, conhecido como estrutura metal-orgânica (MOF).

O material reveste as moléculas da vacina, protegendo-as da degradação do calor, até que a vacina precise de ser administrada.

Nessa altura, é adicionada uma solução para dissolver os revestimentos de MOF e a vacina é administrada como habitualmente.

“Os MOF são um material cristalino poroso que pode crescer à volta da vacina para formar um andaime que a protege contra variações de temperatura”, sublinhou Cara Doherty, co-autora do estudo.

“Os MOFs funcionam de forma semelhante a um andaime, que se pode colocar à volta da sua casa. Uma vez removido o andaime, a sua casa permanece — que é o que acontece quando dissolvemos os MOFs numa vacina“, acrescenta.

Para testar a nova técnica, os investigadores utilizaram um conjunto de vacinas de vírus vivos, utilizadas regularmente.

Estas duas vacinas, uma para uma doença aviária e a outra para a gripe, degradam-se geralmente em dias se não forem armazenadas num frigorífico próprio.

“As vacinas de vírus vivos são extremamente eficazes, mas a sua composição complexa torna-as suscetíveis a temperaturas elevadas, e não foi encontrada uma técnica de estabilização universal”, realçou Layton.

As experiências bem sucedidas mostraram que os revestimentos MOF protegeram as duas vacinas durante 12 semanas, com temperaturas ambientes e até 37 °C. As vacinas mantiveram-se viáveis, após três meses de armazenamento não refrigerado.

Os investigadores notam que ainda há mais trabalho a fazer antes que os revestimentos possam ser comercializados e utilizados, uma vez que necessita de ser otimizado e testado noutros tipos de vacinas, tais como mRNA.

O autor principal do novo estudo, Ruhani Singh, está otimista em relação ao novo método e acredita que vai aumentar significativamente o acesso às vacinas em todo o mundo. Singh refere que a técnica é barata e facilmente ajustável, o que significa que pode entrar rapidamente nos atuais processos de fabrico de vacinas.

“Esta primeira abordagem mundial de estabilização de uma vacina com MOF é simples, rápida, e ajustável porque apenas precisa de um passo“, concluiu Singh.

Alice Carqueja, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.