Um novo estudo de larga escala sugere que as radiações do tipo das emitidas pelos telemóveis podem mesmo causar cancro. Estas novas conclusões, embora levantem dúvidas, podem significar um virar do jogo, depois de várias investigações inconclusivas sobre o assunto.
Levado a cabo pelo Programa Nacional de Toxicologia (NTP na sigla original) dos EUA, que integra o Departamento de Saúde do país, este mega-estudo de 25 milhões de dólares (cerca de 22,5 milhões de euros) foi desenvolvido durante dois anos e meio, avaliando cerca de sete mil amostras de ratos expostos a radiações de rádio-frequência do tipo dos telemóveis de segunda geração (2G).
A pesquisa foi divulgada, neste mês de Maio, no bioRxiv, um site de acesso e distribuição gratuita de trabalhos científicos.
As conclusões demonstram que os ratos machos expostos a dois tipos de radiações de rádio-frequência, apresentaram significativamente maiores probabilidades de desenvolver um tipo de cancro do cérebro conhecido como glioma do que os ratos não expostos. Também apresentaram maiores hipóteses de desenvolver um tumor maligno raro conhecido como Schwannoma do coração.
Apesar de estes efeitos não se terem verificado nas fêmeas, os investigadores alegam que os resultados “parecem suportar” a ideia de que as radiações de rádio-frequência provocam cancro.
“É um virar de jogo”, considera Chris Portier, um dos investigadores que esteve envolvido no estudo, em declarações citadas pelo site Mother Jones. “Temos que olhar seriamente para este assunto com detalhe considerável. O NTP faz os melhores bio-ensaios do mundo em animais. A sua reputação é estelar. Por isso, se nos estão a dizer que isto foi positivo no estudo, é preocupante”, conclui.
Chris Portier ainda releva que os níveis de radiação a que os ratos foram expostos “não são muito diferentes” daqueles a que os humanos estão expostos quando usam os seus telemóveis.
O estudo do NTP foi feito controlando o efeito de aquecimento dos telemóveis, que tem implicações negativas para a saúde humana. Os ratos foram expostos a doses padrão de radiações, em câmaras especialmente construídas para o efeito, durante cerca de nove horas por dia, desde que estavam no ventre materno até morrerem, cerca de dois anos depois.
Entre os ratos machos que receberam as mais altas exposições a radiações, 2 a 3% contraíram gliomas e 6 a 7% desenvolveram tumores Schwannoma. O aumento na intensidade da radiação também aumentou os episódios de cancro nos ratos.
A exposição abrangeu todo o corpo dos ratos, mas estes só desenvolveram cancro no cérebro e tumores em torno do coração. Contudo, os ratos expostos a radiações viveram mais tempo do que aqueles que não foram expostos.
Estes indícios soam contraditórios e levam alguns cientistas a pôr em causa as conclusões do estudo. Até porque, até agora, as pesquisas efectuadas em torno das ligações entre o uso de telemóveis e o cancro têm sido inconclusivas.
Há estudos que chegaram a fazer uma associação entre o lado em que o cancro aparece com o lado em que as pessoas usam mais vezes o seu telemóvel, mas outros não encontraram qualquer associação, como foi o caso de uma recente investigação realizada na Austrália.
Os principais fabricantes de telemóveis têm garantido que estes são perfeitamente seguros e que não acarretam qualquer risco de cancro.
Para Chris Portier, é evidente que “não é claro quem está certo”, o que reforça a necessidade de estudar mais a sério o assunto.
“Gastamos milhares de milhões de dólares a usar os nosso telemóveis. Estamos significativamente expostos, numa base constante, e contudo, gastamos quase nada na pesquisa nesta área. Precisamos de um grande investimento em pesquisa se quisermos entender o que pode estar a acontecer para, esperamos, poder preveni-lo enquanto temos tempo”, constata o investigador citado pelo site Mother Jones.
Já o dirigente da Sociedade de Cancro Americana, Otis Brawley, confessa que os resultados são “inesperados” e lembra, em declarações à NBC, que “os primeiros estudos sobre o elo entre o cancro nos pulmões e o tabaco tiveram uma resistência semelhante“. Este médico reforça assim, a ideia da importância de realizar mais “estudos sérios”.
O relatório final do NTP sobre a investigação ainda não foi dado como concluído e as análises vão prosseguir até 2017. Na Europa, decorre desde 2010 um estudo com 290 mil utilizadores de telemóveis que se vai prolongar até 2040. Talvez por essa altura, haja respostas mais claras quanto a esta ligação… Ou ausência de ligação.
SV, ZAP
Mais um…!
“os primeiros estudos sobre o elo entre o cancro nos pulmões e o tabaco tiveram uma resistência semelhante“, pois claro, não se esqueçam da grande pressão exercida pelos lobbies… Muita coisa pode ser manipulada. Quem paga somos nós que vivemos na ignorância por causa da ganância de poucos.