Novo escândalo com cirurgias no Santa Maria leva à demissão do diretor de dermatologia

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Ivendrell / Wikimedia

Hospital de Santa Maria, em Lisboa

Um novo caso com uma médica que terá sido paga por cirurgias feitas por médicos internos levou a que Paulo Filipe se demitisse da direção da unidade de dermatologia do Santa Maria.

O diretor da unidade de dermatologia do Hospital de Santa Maria, Paulo Filipe, apresentou a sua demissão após ser confrontado com os resultados preliminares de uma auditoria interna que revelou graves irregularidades no serviço.

Esta decisão surge na sequência da investigação jornalística da TVI/CNN Portugal, que expôs práticas abusivas relacionadas com cirurgias adicionais realizadas ao fim de semana, destinadas originalmente a reduzir listas de espera.

As cirurgias adicionais transformaram-se num meio para médicos do serviço de dermatologia obterem remunerações avultadas. O caso mais grave envolve o médico Miguel Alpalhão, responsável pela codificação do serviço, que terá acumulado cerca de 400 mil euros em apenas 10 sábados, chegando a faturar 50 mil euros num único dia.

Alpalhão operou os próprios pais e alegou, em entrevista ao Expresso, que seguiu todas as regras. Contudo, as investigações internas apontam para uma rede de cumplicidades e autorizações internas que sustentaram este modelo de atuação.

Mais recentemente, a TVI deu conta de outro caso no mesmo hospital, desta vez com a médica Rita Travassos, que registou cirurgias realizadas por médicos internos como se fossem da sua autoria, apesar de se encontrar num congresso em Itália na altura das intervenções. Só em 2024, esta médica terá recebido 113 mil euros por sete sábados de trabalho.

Vários médicos do hospital, sob anonimato, denunciam uma situação de “anarquia” no serviço, referindo falta de supervisão nas urgências e sobrecarga de médicos internos, muitas vezes sozinhos perante casos clínicos complexos. Os mesmos profissionais classificam como “obscenos” os valores pagos pelas cirurgias, tendo em conta a simplicidade de muitos dos procedimentos realizados, como meras remoções de sinais que demoram menos de 30 minutos.

A administração do Hospital de Santa Maria já confirmou que Paulo Filipe, também presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia, foi confrontado com as conclusões da auditoria e colocou de imediato o cargo à disposição. O presidente do conselho de administração, Carlos Martins, aceitou a demissão e prepara-se para nomear uma diretora interina.

Desde a divulgação do caso de Alpalhão, a 21 de maio, foram acionadas várias medidas, incluindo a suspensão das cirurgias adicionais ao fim de semana, o envio do caso para a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), e a realização de auditorias internas.

O relatório da auditoria extraordinária à produção adicional confirmou “várias irregularidades graves”, tendo sido fundamental para a queda do diretor de serviço. Paulo Filipe, que acumulava também funções na Comissão de Farmácia e Terapêutica do hospital.

ZAP //

2 Comments

  1. Demite-se e o caso fica resolvido. A justiça no seu melhor. Se alguém é apanhado a roubar, arrisca-se a cadeia. Mas este roubos que não deixam de ser crimes, passam impunes. Se a justiça funciona-se este casos não se repetiam no futuro.

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