Foram descobertas mais atrocidades cometidas no Naufrágio do Batavia. Arqueólogos descobriram restos de 12 vítimas, uma forca e evidências de confrontos entre sobreviventes e amotinados.
Aquele que é considerado o primeiro grande homicídio em massa e o mais terrível da história australiana aconteceu há quase 400 anos.
Foi na pequena ilha de Beacon, uma das 122 que integram o Arquipélago de Abrolhos, pertencente à Austrália, situado no Oceano Índico, que mais de 100 pessoas terão sido torturadas e mortas, no seguimento do embate do barco holandês Batavia com um recife.
O navio mercante da Companhia Holandesa das Índias Orientais viajava rumo a Jacarta, na Indonésia, com mais de 300 passageiros a bordo.
O barco transportava homens, mulheres e crianças que iriam estabelecer-se naquela que era, na altura, uma colónia holandesa, mas a 4 de junho de 1629, a cerca de 25 milhas da costa da Austrália Ocidental, a embarcação naufragou.
40 passageiros tentaram chegar a terra, mas acabaram por morrer afogados. Os restantes 282 sobreviveram, conseguindo chegar à pequena ilha de Beacon, onde tiveram um destino ainda pior, enquanto aguardavam por salvamento.
Mais de 100 pessoas foram mortas e torturadas, ao longo de três meses, e ninguém sabe explicar o que verdadeiramente aconteceu.
Agora, um projeto arqueológico liderado por arqueólogos da University of Western Australia e do Western Australian Museum revelou novos horrores da história, num estudo publicado na revista Historical Archaeology.
Foram descobertos restos humanos de 12 vítimas do episódio, enterradas numa vala comum, e evidências de lutas entre os sobreviventes e os amotinados.
“Através de uma análise meticulosa, descobrimos os restos mortais de 12 vítimas, enterradas em valas comuns, bem como evidências de uma luta feroz entre sobreviventes e um grupo de amotinados”, explicou o autor principal do estudo, Alistair Paterson, ao Phys.org.
Os investigadores serviram-se de mecanismos subaquáticos – em combinação com algumas evidências arqueológicas – para entender o que se passou há quase 400 anos.
Foi possível perceber o movimento inicial dos náufragos para as ilhas próximas, e pormenores sobre as técnicas de tratamento e enterro das vítimas.
“A escavação de restos humanos revela noções sobre o tratamento e as práticas de sepultamento das vítimas. Sepulturas localizadas no centro da Ilha de Beacon sugerem um cemitério em funcionamento, potencialmente representando vítimas desde os primeiros dias após o naufrágio”, disse Alistair Paterson, ao Phys.org.
Também há evidências de lutas ferozes entre os sobreviventes do naufrágio e os amotinados.
“Outras ilhas nas proximidades, como Long (Seals) e West Wallabi, fornecem evidências de armas improvisadas, a presença de fações de resistência e estruturas associadas aos sobreviventes. Em Long Island há uma concentração de fechos de ferro que se acredita ser o local da forca onde os amotinados foram executados”, acrescentou o professor.
O caso ficou escondido nos compêndios da história, durante anos, até ser descoberto o primeiro esqueleto, em 1960.