Natal de pânico em Maputo. Mais de 1500 reclusos fugiram da cadeia de máxima segurança

PAULO JULIAO/EPA

Moçambique está a ferro e fogo, desde segunda-feira, quando foram anunciados os resultados oficiais das eleições gerais. Mais de 1500 reclusos fugiram da cadeia de máxima segurança em Maputo. 33 pessoas morreram.

Pelo menos 1534 reclusos fugiram da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, na tarde desta quarta-feira. De acordo com o comandante-geral da polícia, morreram 33 pessoas.

“Esperamos nas próximas 48 horas uma subida vertiginosa de todo o tipo de criminalidade na cidade de Maputo”, afirmou Bernardino Rafael, em conferência de imprensa ao início da noite, garantindo que entre os reclusos em fuga, dos quais apenas 150 foram recapturados, estavam alguns “terroristas altamente perigosos”.

“Facto curioso é que naquela cadeia nós tínhamos 29 terroristas condenados, que eles libertaram. Estamos preocupados, como país, como moçambicanos, como membros das Forças de Defesa e Segurança”, afirmou Bernardino Rafael.

Segundo o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), a evasão da Cadeia Central de Maputo, localizada na cidade da Matola, a 14 quilómetros do centro da capital moçambicana e que contava com cerca de 2500 condenados e detidos, aconteceu cerca das 13h locais (11h em Lisboa), resultando da “agitação” de um “grupo de manifestantes subversivos” nas imediações.

“Fazendo barulho, nas suas manifestações, exigindo que pudessem retirar os presos que ali se encontram a cumprir as suas penas”, descreveu Bernardino Rafael, explicando que esta ação provocou “agitação” no interior da cadeia, o que levou ao desabamento de um muro, propiciando a fuga, apesar da “confrontação imediata” com os guardas prisionais.

“Esta confrontação resultou [em] 33 óbitos, na confrontação direta com os reclusos. Nas imediações da Cadeia Central 15 feridos”, avançou ainda, apelando à entrega voluntária dos reclusos em fuga e à informação da população sobre estes foragidos.

Segundo o comandante da PRM, nas últimas 24 horas houve outro caso semelhante de evasão, na Cadeia de Manhiça, norte da província de Maputo, em que os manifestantes libertaram os presos, e uma tentativa na Cadeia de Mabalane.

Pânico em Moçambique

Moçambique vive o quarto dia consecutivo de caos nas ruas, na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, com saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos – nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Ao todo, desde 21 de outubro, já morreram pelo menos 252 pessoas na sequência de manifestações pós-eleitorais em Moçambique – metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, na segunda-feira, segundo novo balanço feito pela plataforma eleitoral Decide, esta quinta-feira.

ZAP // Lusa

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