Nasceu um “cofre do Apocalipse” de cocó para salvar a humanidade

Cientistas querem construir um “cofre do Apocalipse” de cocó para preservar a diversidade microbiana, potencialmente salvando a humanidade.

Se está familiarizado com o Svalbard Global Seed Vault — também conhecido por “cofre do Apocalipse” ou, em inglês, Doomsday Vault — saberá o que está em causa.

Construído em 2018, o seu objetivo é preservar uma grande variedade de sementes de plantas, para que possam ser utilizadas para reconstruir populações inteiras em caso de desastres ambientais.

O Seed Vault tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de variedades de culturas. Cada pacote de sementes consiste numa média de 500 sementes, por isso, no máximo 2,5 mil milhões de sementes podem ser armazenadas lá. Atualmente, o Seed Vault tem mais de 1,1 milhões de variedades de sementes de quase todos os países do mundo.

Se nunca tinha ouvido falar deste silo, então achará ainda mais estranha a ideia de guardar fezes num cofre. Com isto, os cientistas esperam proteger a diversidade microbial do mundo e promover uma compreensão mais profunda de como a saúde global é influenciada pelos biliões de bactérias que vivem dentro do intestino humano.

Num nome mais amigável do que o “cofre do Apocalipse”, os cientistas apelidam o novo de “cofre da microbiota” [“Microbiota Vault”].

Depois de terem começado a recolher amostras num grupo de nómadas da Etiópia, os investigadores querem expandir a iniciativa. Os cientistas querem encontrar grupos populacionais que ainda mantêm dietas, hábitos de higiene ou práticas medicinais ancestrais e que estejam dispostos a doar amostras de fezes para um repositório.

As amostras são depois enviadas para a Universidade de Basileia, Universidade de Lausanne, ETH Zürich e Universidade Rutgers para análise.

Segundo a IFLScience, num artigo publicado em 2018 na revista Science, os cientistas explicam como o surgimento de muitas doenças nas últimas décadas pode estar relacionado com mudança no microbioma humano. Estas mudanças podem, por sua vez, estar relacionadas com a urbanização, a industrialização e a globalização.

“Análise metagenómica já tinha mostrado que cerca de 80% das bactérias que habitam o corpo humano são desconhecidas, levando à metáfora da ‘matéria escura microbiana'”, explicam os autores num estudo de viabilidade, publicado em 2020.

“Isto significa que existe o perigo de perder de forma irrevogável informações e oportunidades valiosas, num momento em que a ciência acaba de começar a entender a relevância e o potencial para a saúde do nosso ambiente microbiano e do microbioma”, acrescentam.

Em 2021, o Microbiota Vault iniciou a fase de lançamento do projeto, um período de dois anos para iniciar a instalação de um biobanco algures na Suíça. O objetivo é recolher uma gama diversificada de amostras microbianas, fundamentalmente de fezes humanas, e preservá-las através de congelamento criogénico ou criodessecação.

“Temos de começar antes que seja tarde demais”, concluem os autores no estudo de 2018.

Além do Doomsday Vault e agora do Microbiota Vault, há ainda o projeto Caixa Negra, no qual foi criada uma estrutura gigante em metal, colocada numa localização não revelada na ilha da Tasmânia, que vai preservar atualizações e análises científicas em tempo real, para que sejam descobertas no futuro.

Curiosamente, há ainda o chamado Global Oreo Vault, que tem como objetivo proteger a receita e as bolachas Oreo.

Daniel Costa, ZAP //

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