O verão tem sido marcado pela falta de água em Portugal continental. Alguns municípios temem que a situação se alastre até ao outono e tomam medidas de precaução.
A falta de água no território nacional — e um pouco em toda a Europa — tem preocupado os municípios, que procuram formas de poupar no seu consumo.
O Algarve, por exemplo, anunciou que ia ter de racionar água no setor do turismo, enquanto alguns municípios admitiram cortes de água à noite. Outros têm recorrido ao abastecimento de dezenas de localidades com camiões-cisterna. A continuar assim, as populações destes municípios podem ficar sem água em setembro.
Os portugueses vão ter de se habituar a viver com menos água, alertou recentemente o ministro do Ambiente. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), 45% do território de Portugal continental está em seca extrema.
A barragem de Campilhas, em Santiago do Cacém, “é a que está mais baixa no país”, avisou o presidente da câmara municipal, Álvaro Beijinha, em declarações ao Público.
Havia planos para trazer água do Alqueva até à zona industrial de Sines, para garantir água toda o ano. Entretanto, a solução foi uma ligação do Alqueva à barragem de Fonte Serne, porque era mais perto e mais fácil. “A de Campilhas é mais complicada, estamos a discutir essa possibilidade”, disse Álvaro Beijinha.
A Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca voltará a reunir-se para avaliar as medidas propostas em junho e anunciar novas soluções a 24 de agosto.
Em Trás-os-Montes, têm sido levadas a cabo campanhas de sensibilização da população. Os abastecimentos de reservatórios de água também estão a ser avaliados, “no sentido de o Ministério do Ambiente vir a cobrir algumas das despesas”, explicou o vice-presidente de Mirandela, Orlando Pires, ao Público.
“Para precaver o outono, e a possibilidade de continuarmos com uma baixa pluviosidade, iniciamos uma campanha de sensibilização da população para a poupança de água, reduzimos em 60% a rega de espaços verdes, suspendemos a lavagem da frota automóvel do município e vamos passar a plantar nos espaços verdes plantas mais capazes de resistir ao stress hídrico, além de combater as perdas de água nos edifícios municipais e nas escolas”, descreveu Orlando Pires.
Caso isto não funcione, a solução pode passar por “encerrar fontes, bebedouros e chuveiros públicos, suspender a rega de jardins públicos, encerrar piscinas municipais, proibição do consumo da água da rede pública para a rega de jardins e hortas, lavagem de passeios, pátios e viaturas, e corte no abastecimento durante horas noturnas e/ou limites de consumo por pessoa”.
No Minho, por sua vez, o presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, assume que poderá haver um corte do abastecimento de água para consumo humano já este mês e possivelmente em setembro.
A APA tem discutido a elaboração de um “pacto de água” no concelho de Odemira, entre a autarquia, produtores agrícolas, empresários do turismo, a empresa distribuidora de água e a Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural. Mirandela também aposta em medidas articuladas e o Algarve pode vir a juntar-se.
“A curto prazo, preveem-se cortes no abastecimento público durante algumas horas, se não chover mais em outubro-dezembro do que choveu no ano passado”, avisou o presidente da Câmara de Olhão, António Pina.
“Avançámos com o encerramento das piscinas municipais, a rega dos relvados das zonas verdes foi reduzida em 80% em Olhão, e outros concelhos fizeram o mesmo. Algumas lavagens dos espaços públicos só acontecem se forem mesmo muito necessárias, e com água das ETAR”, exemplifica o autarca.