Se andar, não beba: 30% dos peões que morreram estavam alcoolizados

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O número de vítimas mortais resultantes de acidentes rodoviários que envolvem pessoas com álcool no sangue tem vindo a aumentar, principalmente, quando se fala em peões. Os especialistas pedem uma fiscalização mais apertada e um programa sério contra o alcoolismo.

Em Portugal, há cada vez mais mortes em acidentes rodoviários a envolver pessoas que têm uma taxa de álcool igual ou superior ao permitido por lei para conduzir (0,5 g/l).

Mas é do lado dos peões que está o número que mais salta à vista, quando se analisam os resultados das autópsias realizadas pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), revelados pelo Jornal de Notícias.

No ano passado, quase um terço – 27,7% – das vítimas tinha álcool a mais no sangue (1,2 g/l). Em 2017, este valor era apenas 12,2%.

Até 2021, a percentagem de peões com uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l de álcool no sangue esteve sempre abaixo dos 17%. Mas em 2022 este número disparou.

Em declarações ao JN, Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), pediu a implementação do sistema do “alcohol-lock” em Portugal.

Este sistema deteta automaticamente os níveis de álcool no sangue dos condutores e impede-os de arrancar, caso não estejam reunidas as condições de segurança.

Uma diretiva europeia que entrou em vigor a 6 de julho de 2022 obriga os estados-membros a instalar um alcoolímetro que pode bloquear o arranque do carro nos novos modelos de veículos, havendo um período de adaptação de dois anos.

Nos países onde já está a ser testado, o instrumento tem tido como alvo grupos específicos, como motoristas de transportes públicos ou taxistas. Há estudos que indicam que o sistema é até 90% mais eficaz do que outros métodos de prevenção.

Dados revelados pelo JN mostram um aumento expressivo da alcoolemia nos peões, mas também nos condutores, em que a taxa de álcool igual ou superior a 1,2 g/l esteve sempre acima dos 20% desde 2017.

O que está a falhar?

Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM), disse ao JN que é fundamental “saber a localização dos acidentes, se foram em zonas urbanas ou não, nas capitais de distrito, no Norte ou no Sul”.

“As zonas de lazer para peões nos espaços públicos têm aumentado, nomeadamente em áreas urbanas como Lisboa. (…) A turistificação pode estar a causar este efeito colateral. (…) Os espaços de divertimento noturno também aumentaram muito”, exemplificou.

Manuel João Ramos lamenta que, em Portugal, não existam ainda programas sérios contra o aumento do alcoolismo jovem. “É um fenómeno que se tem vindo a agravar desde o ano 2000”, atirou.

Na mesma linha de pensamento, Joana Teixeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, disse, ao matutino, que tem ocorrido um “abrandamento das campanhas de segurança rodoviária“, sobre o consumo de álcool ao volante.

Por sua vez, Alain Areal diz que é necessário haver um controlo mais apertado: “Cada condutor é submetido em média a um teste de alcoolemia de quatro em quatro anos. (…) Se aumentasse a frequência, teria benefícios e criaria maior pressão sobre os condutores”.

Miguel Esteves, ZAP //

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