Mudar a forma como respiramos aumenta o poder do nosso cérebro

Nunca paramos de respirar, mas raramente nos lembramos de o fazer (embora devêssemos). O cérebro funciona de maneira diferente quando inspiramos ou expiramos, ou quando respiramos pelo nariz ou pela boca.

Certamente que todos (ou quase todos) já ouvimos dizer a alguém que está nervoso para respirar. É algo que se sabe que, por natureza, faz bem durante um momento de pânico.

Mas respirar serve para muito mais do que oxigenar o corpo (função primordial) ou para manter a calma.

A ciência já demonstrou que respirar pode mudar radicalmente o nosso cérebro, ao aguçar-nos os sentidos e melhorar a capacidade de desempenho.

É o que explica neurocientista Helen Thomson, num artigo publicado esta quinta-feira na New Scientist, em que se propõe a explicar de que forma podemos melhorar o nosso dia apenas usando melhor a respiração.

A especialista sustenta que a forma como respiramos pode mudar radicalmente a forma como pensamos e sentimos.

Por exemplo, uma das técnicas de respiração mais estudadas é o pranayama – ato de controlar conscientemente a respiração – que demonstrou reduzir a ansiedade e promover o relaxamento.

“Parte da razão parece ser que, quando respiramos profundamente, o tecido pulmonar se estica e estimula um ramo do sistema nervoso chamado sistema nervoso parassimpático. Isso causa uma sensação de calma, porque o sistema nervoso parassimpático pode atuar como um freio na nossa resposta de luta ou fuga ao stress”, explica a especialista.

Um estudo publicado em abril na Nature detalha como a respiração altera o estado elétrico dos neurónios, tornando-os mais ou menos propensos a disparar um impulso elétrico, que é como as células cerebrais comunicam entre si.

A respiração fornece um sinal de referência rítmico, “agindo como um maestro de orquestra”, para ajudar grupos de neurónios associados à mesma tarefa a coordenar a sua atividade.

Respirar aguça a mente

Em 2016, uma equipa da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, nos EUA descobriu que a inspiração sincronizava a atividade no córtex olfativo, que processa o cheiro e integra essa informação com memórias e emoções, e no sistema límbico, que também está envolvido na memória e nas emoções.

Para investigar se inspirar ou expirar afeta a cognição de maneira diferente, fez-se um teste em que os participantes distinguiam entre rostos que demonstravam medo ou choque; e outro em que foram apresentadas imagens de objetos e, depois, um conjunto de objetos, com os participantes a responde se já os tinham visto anteriormente ou não.

Os participantes foram mais rápidos e precisos no reconhecimento das emoções faciais quando inspiravam do que quando expiravam. Da mesma forma, eles foram melhores em lembrar imagens que tinham visto quando inspiravam e recordavam mais facilmente se tinham visto um objeto enquanto inspiravam.

Basta (literalmente) uma inspiração

Outros estudos também mostraram resultados semelhantes: o desempenho é tendencialmente melhor quando se inspira e pior quando se expira.

Noutro estudo, de 2019, por exemplo, da Universidade de Haifa, em Israel, quando um grupo de participantes decidiu fazer uma tarefa, verificou-se que estavam mais inclinados a começar enquanto inspiravam, sincronizando inconscientemente os seus esforços com a respiração.

Todas estas pesquisas apontam para a mesma conclusão: a inspiração parece preparar o cérebro para receber informações sensoriais e aprimora o desempenho cognitivo em tarefas específicas.

Os benefícios da respiração nasal

Outra descoberta relatada pela neurocientista Helen Thomson é que, em muitos estudos que testam o efeito da respiração na cognição, o desempenho diminui significativamente quando as pessoas respiram pela boca em vez do nariz.

Isso pode ser devido à atividade neural única envolvida na respiração nasal.

Por exemplo, no estudo de 2016, a equipa descobriu que a respiração nasal aumentava certos tipos de atividade cerebral associados à aprendizagem no córtex olfativo, que processa o cheiro e integra essa informação com memórias e emoções, bem como na amígdala e no hipocampo — áreas que envolvidas nas emoções e na memória. Essa atividade foi reduzida quando as mesmas pessoas respiraram pela boca.

Thomson escreve que “é uma pena” que grande parte da nossa respiração ocorra inconscientemente. Se as pessoas tivessem maneiras melhores de visualizar ou controlar a respiração, estariam mais bem informadas sobre como ela muda durante diferentes atividades.

ZAP //

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