O partido islâmico moderado que dominou o cenário político de Marrocos durante uma década perdeu as eleições de quarta-feira para um partido liderado por um dos oligarcas mais ricos do país.
O partido Justiça e Desenvolvimento (PJD), formação política islâmica, acreditava num terceiro mandato, mas acabou por sair derrotado nas eleições, depois de mais de uma década a governar o país, noticiou o Independent.
Na frente da corrida ficou o Grupo Nacional Independente (RNI), liderado pelo oligarca Aziz Akhannouc, que conquistou 97 lugares na Câmara dos Representantes, seguido do Partido Autenticidade e Modernidade (PAM), principal partido da oposição, com 82 lugares. Seguiu-se o Partido Istiqlal, de centro-direita, com 78 lugares, e o PJD com 12.
Em 2011, o país adotou uma nova Constituição, que atribuiu grandes prerrogativas ao parlamento e ao governo, num estado em que o rei Mohamed VI ainda é detentor de grande poder. Será este que nomeará um novo chefe de governo que comandará o executivo pelo período de cinco anos.
A insatisfação dos eleitores, os problemas económicos causados pela pandemia da covid-19, as novas regras eleitorais que favorecem partidos menores e a ausência do seu carismático ex-porta-estandarte, Abdelilah Benkirane, levou o PJD a perder votos.
O resultados destas eleições sugerem uma mudança na opinião pública em Marrocos, e no mundo árabe em geral, há alguns anos influenciada pela tendência do Islão populista, representado pelo PJD desde a Primavera Árabe de 2011.
A votação também traz implicações geopolíticas. O PJD é considerado próximo da Turquia e do Catar e a sua derrota representa uma vitória para os Emirados Árabes Unidos, que se tem mostrado contra os partidos islâmicos no norte da África e no Médio Oriente.