Cientistas criam espécie de mosca para comer mais resíduos humanos

Muhammad Mahdi Karim / Wikimedia

Mosca-soldado-negro (Hermetia illucens)

Uma equipa de cientistas australianos é pioneira numa solução para o problema dos resíduos orgânicos da humanidade através da engenharia genética de uma espécie de mosca.

As moscas modificadas foram concebidas para consumir mais resíduos e produzir subprodutos valiosos, como lubrificantes, biocombustíveis e alimentos para animais.

A mosca-soldado-negro, já utilizada comercialmente para processar resíduos orgânicos, é o foco deste esforço de engenharia genética. Ao alterar a sua genética, os cientistas pretendem alargar a variedade de resíduos que as suas larvas podem consumir e aumentar a produção de compostos e enzimas benéficos durante o processo.

Uma vantagem é o potencial para reduzir as emissões de metano, um subproduto da decomposição de resíduos orgânicos que aquece o planeta.

“Estamos a caminhar para uma catástrofe climática e os resíduos dos aterros libertam metano. Precisamos de reduzir isso a zero”, disse Kate Tepper, coautora principal do estudo, em declarações ao jornal britânico The Guardian.

As moscas-soldados-negros, que se encontram em todos os continentes exceto na Antártida, já são grandes processadoras de resíduos. As suas larvas podem consumir o dobro do seu peso corporal em resíduos por dia e são também utilizadas na alimentação animal.

O objetivo da equipa é criar uma economia circular em que os resíduos deixem de ser um problema e passem a ser um recurso para reutilização e geração de rendimentos. Para tal, criaram uma empresa derivada, a EntoZyme, para comercializar o seu trabalho, e pretendem colocar as primeiras moscas geneticamente modificadas em instalações de resíduos até ao final do ano.

Para dar resposta às preocupações ambientais, os cientistas criaram as moscas com fragilidades específicas, como a incapacidade de voar, o que as torna inviáveis fora das instalações controladas de tratamento de resíduos.

Para além do consumo de resíduos, estas moscas geneticamente modificadas podem produzir enzimas úteis em alimentos para animais, têxteis e produtos farmacêuticos, e compostos gordos para biocombustíveis e lubrificantes. Outra aplicação inovadora inclui moscas concebidas para consumir resíduos contaminados, sendo os excrementos resultantes utilizáveis como fertilizante.

O impacto potencial desta investigação é significativo, oferecendo um método sustentável para gerir os resíduos orgânicos e reduzir as emissões de metano. O novo estudo foi recentemente publicado na revista Communications Biology.

ZAP //

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