A morte do cantor Moon-bin, de 25 anos, deixou os seus fãs em estado de choque. Nove dias antes, tinha sido encontrada morta a actriz Jung Chae-yul, de 26 anos. Ambos terão cometido suicídio após uma sucessão de casos semelhantes entre jovens estrelas da Coreia do Sul.
O K-pop é, actualmente, um fenómeno global, conquistando milhares de jovens ao redor do mundo. Para quem não sabe o que é, trata-se de um estilo musical que nasceu na Coreia do Sul e que é, basicamente, o pop sul-coreano, misturando esse género musical com o hip hop e a toada mais electrónica.
Mas o K-pop é só uma das faces do “boom” cultural sul-coreano que atravessou as fronteiras do país e que também se estende ao cinema e às séries de televisão, nomeadamente a “Squid Game“.
Moon-bin era um dos elementos dos Astro, uma boys band de K-pop que era especialmente popular na Ásia, mas que era conhecida um pouco por todo o mundo.
O cantor, mas também actor, bailarino e modelo de 25 anos foi encontrado morto pelo seu empresário no apartamento onde vivia em Seul. Ter-se-á suicidado, embora a polícia ainda não o tenha confirmado.
Depois do seu último concerto, no passado dia 8 de Abril, em Banquecoque, Moon-bin participou numa transmissão ao vivo nas redes sociais com os seus seguidores e deixou uma confissão: “sinto-me muito mal”.
Nove dias antes da morte de Moon-bin, tinha sido encontrada morta a actriz Jung Chae-yul, de 26 anos, que também se terá suicidado. A jovem ficou conhecida pela participação na comédia “Zombie Detective” da Netflix e a imprensa especula que estaria a enfrentar uma depressão.
Onda de mortes entre estrelas pop sul-coreanas
No ano passado, foi a actriz Yoo Joo-eun, de 27 anos, a ser encontrada morta na sua casa. Ela terá deixado uma carta de suicídio que foi publicada pela família nas redes sociais, seguindo o desejo de Yoo.
“A minha mente grita que não quer viver mais”, escreveu a jovem. “Desculpem-me por deixar todos para trás”, sublinhava ainda, salientando que não estava “nem um pouco triste” naquele momento, mas “decidida e calma”.
Em 2019, assinalaram-se três suicídios seguidos em apenas dois meses. O primeiro foi da cantora Sulli, de 25 anos, que se tornou famosa na Coreia do Sul logo aos 11 anos como actriz e que fazia parte da girls band F(x). Antes de morrer, tinha revelado que estava a ser vítima de bullying online, o que terá complicado ainda mais o transtorno de ansiedade e fobia social de que sofria.
Sulli foi criticada por não usar soutien em público e depois de assumir que mantinha um relacionamento amoroso, algo que é quase “proibido” às vedetas das girls bands sul-coreanas, uma vez que a indústria quer passar aos fãs a imagem de jovens solteiras e sexualmente apetecíveis.
Cerca de um mês depois da morte de Sulli, a sua amiga Goo Hara, de 28 anos, também foi encontrada morta no seu apartamento. Esta jovem fazia parte da girls band Kara e tinha denunciado o ex-namorado por abusos sexuais e por estar a chantageá-la com vídeos sexuais de ambos, filmados sem o seu consentimento.
Nesse mesmo ano, foi encontrado morto o cantor e actor Cha In-ha, de 27 anos, que era membro do grupo de K-pop “Surprise U”.
Em 2018, apareceu morto em casa o líder da banda 100%, Seo Min-woo, de 33 anos. A causa oficial da morte foi um ataque de coração, mas suspeita-se que tirou a própria vida.
No ano anterior, Kim Jong-hyun, da banda SHINee, foi encontrado inconsciente num hotel. Acabaria por morrer aos 27 anos no hospital, deixando para trás uma nota de suicídio.
“A depressão que me corroía lentamente, absorveu-me, finalmente, por completo. Quebrou-me por dentro. Estava tão só que não consegui vencê-la”, escreveu como citaram vários órgãos de informação na altura.
Mas o que explica esta vaga de suicídios?
A imagem perfeita das estrelas do K-pop esconde um lado negro que leva muitos jovens ao extremo. As figuras das boys bands e girls bands sul-coreanas passam por rigorosos programas de capacitação que incluem dietas rigorosas e até cirurgias plásticas, para ficarem com o aspecto considerado ideal.
Além de toda essa pressão, enfrentam muitas horas de trabalho e não é à toa que se fala de “contratos de escravos”, com acordos de longa duração que obrigam os jovens a darem o seu melhor durante muito tempo.
O caso de Moon-bin é exemplificativo do que está em causa. O jovem já era uma estrela na Coreia do Sul, tendo-se tornado famoso como actor logo aos 11 anos de idade. Mas, apesar disso, ainda teve que treinar durante oito anos para poder entrar nos Astro. E essa é a realidade de quase todas as estrelas do K-pop.
Por outro lado, é um mundo altamente competitivo e onde existem assédios vários, inclusive online, com críticas expostas de forma absolutamente crua e cruel.
“Ser uma celebridade na Coreia do Sul significa estar sob uma pressão muito maior em comparação com as estrelas pop na América do Norte ou na Europa”, considera o correspondente da revista Billboard na Ásia, Rob Schwartz, em declarações citadas pela Globo.
“A Coreia tem um padrão moral muito rígido para as celebridades em comparação a outros países”, analisa ainda o crítico de cultura pop coreana Ha Jae-kun no mesmo jornal.
Portanto, as estrelas enfrentam a “alta pressão social de um forte colectivismo“, com todos os seus gestos analisados ao microscópio.
Saúde mental ainda é um tabu na Coreia do Sul
Por outro lado, a saúde mental é ainda um tema tabu na Coreia do Sul. Os problemas nesta área são vistos como fraquezas que é preciso esconder. Portanto, poucas pessoas procuram ajuda para os transtornos psicológicos.
O suicídio é a principal causa de morte entre os menores de 40 anos na Coreia do Sul. O país tem a taxa mais alta de suicídio de todos os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), como nota um artigo da Harvard International Review (HIR).
“Todos os dias, quase 40 sul-coreanos cometem suicídio”, aponta um estudo de 2022 publicado no portal científico BMC Public Health, onde se diz que o problema deve ser “uma prioridade de saúde pública”.
Mas o que explica os problemas mentais crescentes dos jovens sul-coreanos? Há vários factores envolvidos e um deles é “a cultura cada vez mais competitiva e stressante em torno do trabalho, da vida e da família”, como destaca o artigo da HIR.
Além disso, é preciso apontar ainda as altas taxas de desemprego entre os mais jovens e a crise imobiliária em cidades como Seul. Estas dificuldades financeiras
acabam por exacerbar os problemas de saúde mental.
O aumento no consumo de álcool no país vem agravar as situações, a par das pressões sociais que, no caso das estrelas do K-pop, assumem proporções especialmente significativas.
Se precisa de ajuda, contacte um dos seguintes números:
SOS VOZ AMIGA
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TELEFONE DA AMIZADE
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VOZ DE APOIO
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