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Morreu Joel Pina, viola baixo de Amália e de várias gerações do fado

akaTolan / Wikimedia

O músico Joel Pina

O músico, que tinha 100 anos, morreu, esta quinta-feira, em Cascais, onde se encontrava hospitalizado, disse à agência Lusa a diretora do Museu do Fado, Sara Pereira.

Joel Pina, que acompanhou vários intérpretes portugueses e diferentes gerações do fado, como Maria Teresa de Noronha, Teresa Tarouca, Tony de Matos, Max e Tristão da Silva, completaria 101 anos na próxima quarta-feira.

O primeiro-ministro, António Costa, já reagiu a esta perda na sua conta do Twitter. “O fado perdeu um dos seus grandes mestres. Joel Pina nasceu no mesmo ano de Amália Rodrigues e entre os dois houve um entendimento musical que durou três décadas. Acompanhou sucessivas gerações de fadistas com a sua viola baixo, que continuava a tocar, do alto dos seus 100 anos. A melhor forma de expressar a nossa gratidão é continuar a ouvi-lo”, escreveu.

Joel Pina era o nome artístico de João Manuel de Pina, que acompanhou Amália Rodrigues desde 1966 até à morte da fadista, e de quem guardava “viva recordação”, como recordou à agência Lusa, alguns anos após a morte da cantora.

Numa das suas entrevistas à Lusa, o músico recordou como a equipa francesa do filme “Les Amants du Tage” (“Os Amantes do Tejo”, 1955), de Henri Verneuil, fez questão de contar com a sua participação, acompanhando Amália, que fazia parte do elenco, e descreveu como muitos “brincavam” consigo, referindo-se ao instrumento – a viola baixo, de maior dimensão – como “o frigorífico”.

O músico fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, homenageado pela Câmara de Lisboa, pela sua excelência musical e contributo para a música, em junho de 1999. Por iguais motivos, em 1992, o Ministério da Cultura entregou a Joel Pina a Medalha de Mérito Cultural. Em 2005 recebeu o Prémio Amália Rodrigues, distinguindo-o como “o Melhor Viola-Baixo”, e destacando a sua contribuição para o desenvolvimento do instrumento.

Fez parceria com músicos como Jorge Fernando, Pedro de Castro, Carlos Gonçalves (que morreu em março de 2019), Jaime Santos, José Fontes Rocha e José Nunes, entre outros.

Segundo a Enciclopédia da Música Portuguesa no Século XX, Joel Pina caraterizava-se “pela clareza da progressão do baixo executada com uma pulsação regular que permite ao fadista e ao guitarrista uma larga margem de liberdade expressiva (recorrendo muitas vezes ao tempo ‘rubato’ e à elaboração melódica), sem perder o controlo rítmico e o percurso harmónico de base”.

Pina nasceu a 17 de fevereiro de 1920, em Rosaminhal, no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, onde começou, como autodidata, a tocar bandolim, antes de se iniciar no solfejo. Aos 12 anos, em 1932, começou o estudo da guitarra portuguesa e da viola. Na sua terra natal fez parte de vários grupos de animação de bailes.

Em 1938 fixou-se em Lisboa, iniciando-se, como espetador, no circuito das casas de fado. A profissionalização surgiu em 1949, quatro anos depois de se casar com Aurora Gonçalves Borges.

O músico Martinho d’Assunção (1914-1992) convidou-o a fazer parte do seu Quarteto Típico de Guitarras, que incluía ainda António Couto e Francisco Carvalhinho. Foi Martinho d’Assunção que o aconselhou a dedicar-se à viola-baixo.

Em 1959, entrou para o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, com quem manteve amizade até à morte do guitarrista, em junho de 2012. “Amizade forte e sólida, de quem se estima e sempre se foi camarada”, disse Joel Pina, numa das suas entrevistas à Lusa.

O conjunto, nas suas diferentes fases, incluiu igualmente nomes como José Fontes Rocha, Joaquim do Vale e Júlio Gomes, e deixou de tocar em 1969.

Em 1961, Joel Pina entrou na Função Pública, para os quadros da Inspeção das Atividades Económicas, de onde se reformou.

Além de acompanhador, Joel Pina foi também autor de melodias, nomeadamente “Folha Caída”, “Madrugada” e “Tempo Perdido”.

Pina participou, em 2013, na apresentação, em Lisboa, do álbum de Margarida Bessa, “Saudade das Saudades”, que incluiu uma entrevista ao músico na qual recordou o trabalho com Maria Teresa de Noronha (1918-1993) que acompanhou, nomeadamente nos seus programas na ex-Emissora Nacional, entre 1933 e 1962.

O músico foi homenageado em setembro do ano passado, no Teatro S. Luiz, em Lisboa, num concerto que contou com as participações, entre outros, de Maria da Fé, Mariza, Gonçalo Salgueiro, Mísia, Teresa Siqueira e Lenita Gentil, e ao qual assistiu o primeiro-ministro, António Costa.

ZAP // Lusa

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