Há 13 genes presentes nos morcegos comuns que os morcegos-vampiros não têm, segundo um novo estudo, e estas perdas ajudaram os animais a sobreviver com uma dieta apenas sustentada no sangue.
Ambos gostam da escuridão e têm uma mitologia muito próxima, mas a verdade é que os vampiros e os morcegos não têm muito em comum para além disto. Apenas três espécies de morcegos baseiam a sua alimentação no sangue, com a maioria das restantes a preferir comer fruta ou insectos.
O caso dos morcegos-vampiros é especial porque há vários genes que estes não têm que estão presentes na generalidade dos outros morcegos, o que pode explicar esta diferença na dieta, já que os morcegos-vampiros são os únicos mamíferos que se alimentam exclusivamente de sangue.
Vários estudos anteriores já se debruçaram sobre esta questão, até porque a sobrevivência só à base de sangue é muito desafiante, dado que este tem pouco conteúdo calórico e é maioritariamente composto por água.
Os animais também se foram adaptando a estes obstáculos, com os sensores de calor no focinho que lhes permitem detectar os vasos sanguíneos das presas, os dentes afiados e os anticoagulantes presentes na sua saliva.
Para conseguirem toda a energia de que precisam, os morcegos-vampiros têm de ingerir 1.4 vezes o seu peso em sangue durante cada refeição, nota a New Scientist. Um novo estudo publicado na Science Advances procurou saber mais sobre o que torna estes morcegos tão diferentes dos outros.
A equipa comparou o genoma de morcegos-vampiros comuns ao de 26 outras espécies e concluiu que há 13 genes nestes pequenos sugadores de sangue que ou já não funcionam ou simplesmente não existem. Um estudo semelhante de 2014 já tinha notado a falta de três genes, mas os restantes 10 são descobertas novas.
A perda do gene REP15, especificamente, permite uma melhor digestão do ferro nas células gastrointestinais dos animais, visto que o sangue é rico neste mineral. Já a ausência de dois outros genes permite que a glucose fique nos corpos dos morcegos mais tempo, prevenindo a hipoglicemia que seria de esperar dadas as pequenas quantidades de hidratos de carbono no sangue que estes consomem.
Um outro gene que lhes falta pode ser a consequência de “modificações morfológicas e fisiológicas extensivas” nos estômagos, já que em vez de serem órgãos musculares, os estômagos dos morcegos-vampiros são estruturas expansíveis que permitem o armazenamento de grandes quantidades de sangue.
Três dos genes perdidos são responsáveis pelos receptores do sabor que permitem a distinção de diferentes comidas, sendo que estes são inúteis quando a dieta destes animais se baseia apenas no sangue.
Estas mudanças também tiveram um impacto cognitivo, já que a perda do gene CYP39A1 ajudou os pequenos vampiros a sofisticarem as suas capacidades sociais.
Dado que o sangue é um alimento baixo em calorias e que por isso exige o consumo constante, os animais podem ajudar-se uns aos outros ao regurgitarem as suas refeições para as partilharem com outros morcegos-vampiros.
Para além disso, os animais também são generosos com os seus amigos e lembram-se assim de quem os ajudou no passado, podendo oferecer-lhes comida no futuro como retribuição, caso esta seja precisa.