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“Não pode ser coincidência!”: porque se diz que tantos músicos famosos morrem aos 27 anos

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Clube dos 27. Parece que precisamos de mitos. Porque somos “máquinas criadoras de significado”, é isso que fazemos enquanto seres humanos.

A maioria dos leitores já saberá o que é o ‘Clube dos 27’. Mas para quem ainda não está dentro do assunto, passa a estar.

Essa expressão surgiu há pouco mais de 50 anos, quando apenas entre 1969 e 1971 morreram Brian Jones (era um dos elementos dos Rolling Strones), Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison (The Doors).

Todos eram músicos muito conhecidos, todos morreram quando tinham 27 anos.

Também surgiu outra “maldição” nesse período: Brian Jones morreu no dia 3 de Julho de 1969; Jim Morrison morreu no dia 3 de Julho de 1971. Exactamente dois anos entre o primeiro e o último caso.

E até poderíamos falar sobre uma espécie de ‘Clube J’: Jones, Jimi, Janis Joplin, Jim.

Mas voltando aos 27 anos, décadas mais tarde Kurt Cobain e Amy Winehouse juntaram-se a esse clube indesejado. Também morreram quando tinham 27 anos, também eram músicos seguidos por milhões e milhões de pessoas.

É certo que todos estes músicos morreram aos 27 anos. Mas também é certo que muitos (mesmo muitos mais) músicos morreram com outra idade.

E não falamos sobre eles.

Porquê?

Primeiro, porque aquele grupo foi muito forte e aconteceu em pouco tempo. Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison – todos “estrelas do rock”, todos ícones daquela época hippie, figuras do movimento contracultura que surgiu na década 1960. Em apenas dois anos, todos morreram (além do menos popular Alan Wilson, dos Canned Heat, que morreu em 1970). E, como todos tinham 27 anos, ficou na memória.

Mas há mais: parece que nós precisamos de mitos. Porque “não pode ser coincidência!”.

Um estudo publicado nesta semana fala sobre a “dependência” que temos em relação ao destino, à estigmergia; e como foi isso essencial na formação do mito do Clube 27.

Esta análise mostra como um mito, uma crença ou uma narrativa – com base factual limitada – pode ser formada num período relativamente curto e ter consequências culturais reais.

As trajectórias culturais estão sujeitas a eventos improváveis ​​e, portanto, podem ser impossíveis de prever.

O sociólogo Zackary Dunivin explica o que muitos já pensam: damos mais atenção às pessoas que morrem aos 27 anos por causa deste “clube”. E aí cria-se a narrativa que morrem mesmo mais músicos famosos com esta idade; essa narrativa torna-se mais famosa, mais fortalecida, com o passar dos anos.

Mesmo quem nunca ouviu falar do Clube dos 27, “encontra mais pessoas famosas que morreram aos 27 anos”, comenta Dunivin no portal Scientific American.

“Fizemos este mito parecer verdadeiro porque é real a sensação de que mais pessoas morrem aos 27 anos” – a sensação, não as estatísticas. Porque se fizéssemos uma lista de todos os músicos famosos que morreram ao longo de toda a história… Já lá vamos.

O especialista acrescenta: “Somos máquinas criadoras de significado – é isso que fazemos enquanto seres humanos. Olhamos para isto e dizemos ‘Não pode ser coincidência!'”.

Mas é pouco provável que se repita a morte de um quarteto tão famoso de músicos em apenas dois anos, tal como aconteceu entre 1969 e 1971. Aliás, é mesmo muito pouco provável: o estudo estima a probabilidade de 1 em 100.000 de isso acontecer.

Aquela foi de facto uma sequência “verdadeiramente estranha”, admite o sociólogo; mas ainda mais surpreendente terá sido o impacto – no mundo real – no legado de famosos, sobretudo músicos, que mais tarde morreram mesmo aos 27 anos.

É de facto um mito

Há pouco avisámos que se fizéssemos uma lista de todos os músicos famosos que morreram ao longo de toda a história, veríamos o resultado.

Os autores do estudo fizeram mesmo. Analisaram quase 350 mil famosos que nasceram no século passado e que morreram até 2015; e esta estatística confirmou que o risco de morte não aumenta quando se tem 27 anos.

A única coisa que aumentou foi… a popularidade. Um famoso que tenha morrido aos 27 anos foi muito mais comentado por causa disso.

Esse fenómeno é real: falar mais sobre quem morre aos 27 anos. Esquecemo-nos é de quem morreu com outra idade qualquer.

E assim se cria um mito.

ZAP //

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