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O misterioso caso do “exoplaneta desaparecido” foi finalmente resolvido

M. Kornmesser / NASA / ESA

Em 2014, o exoplaneta Fomalhaut b, ou Dagon, desapareceu sem deixar rasto. Agora, uma equipa de astrónomos parecem ter resolvido este mistério. Como uma boa história de detetives, o final é algo inesperado.

O Dagon foi descoberto pelo Telescópio Espacial Hubble em 2004 e 2006 a orbitar uma estrela chamada Fomalhaut a 25 anos-luz de distância e era diretamente detetável à luz visível – algo extremamente raro para exoplanetas, que geralmente são demasiado pequenos e fracos para serem vistos.

O objeto foi anunciado em 2008 e confirmado em 2012. Pensava-se que Dagon seria um gigante gasoso numa órbita altamente elíptica de 1.700 anos em torno da estrela hospedeira.

Porém, ao examinar imagens do Hubble anteriormente inéditas, tiradas em 2014, os astrónomos ficaram chocados. O planeta tinha desaparecido. No seu lugar, não havia nada, levando os astrónomos a chegar à conclusão de aquele objeto nunca foi um exoplaneta.

A. Gáspár and G. Rieke / UArizona / NASA / ESA

 

Na altura, a identificação de Dagon como um exoplaneta teve problemas. Fomalhaut é uma estrela bastante jovem, com cerca de 440 milhões de anos, e ainda cercada por um anel de poeira e gás, os restos de um disco circunstancial.

Isto significa que qualquer planeta que orbite a estrela também deve ser bastante jovens e, portanto, quentes, emitindo radiação infravermelha. Porém, não foi detetada nenhuma radiação infravermelha do Dagon. Além disso, era anormalmente brilhante em comprimentos de onda óticos azuis, o que não é consistente com os modelos de formação de planetas.

Para explicar estas peculiaridades, os astrónomos propuseram que o planeta estivesse envolto por um enorme anel ou nuvem de poeira, como resultado de colisões com outros objetos ou fosse um planeta mais pequeno com um enorme sistema de anéis. Alguns até propuseram que Dagon pudesse ser uma estrela de neutrões. No entanto, nenhuma dessas explicações era conclusiva.

Havia outro problema: a órbita de Dagon parecia atravessar o anel de detritos ao redor da estrela sem perturbá-la gravitacionalmente, como um planeta faria.

Agora, os cientistas acreditam que o ponto brilhante visível nas primeiras imagens do Hubble era uma visão ainda mais rara: o resultado de uma colisão entre dois planetesimais do tamanho de um asteróide.

“Estas colisões são extremamente raras e, portanto, é um grande coisa realmente conseguirmos ver uma”, disse András Gáspár, astrónomo da Universidade do Arizona, em comunicado. “Acreditamos que estávamos no lugar certo e na hora certa para testemunhar um evento tão improvável com o Telescópio Espacial Hubble”.

Quando os astrónomos descobriram a ausência de Dagon nos dados do Hubble de 2014, Gáspár e o seu colega, George Rieke, da Universidade do Arizona, reexaminaram as observações anteriores.

Os cientistas descobriram que o objeto parecia estar a desaparecer ao longo do tempo.

Com base na análise dos dados, Gáspár e Rieke acreditam que a colisão ocorreu pouco antes da primeira imagem do Hubble em 2004. Os dois objetos teriam, cada um, cerca de 200 quilómetros de largura e provavelmente constituídos de rochas e gelo, como os cometas do Sistema Solar.

Os dois objetos uniram-se num colossal esmagamento que foi brevemente visível, mas que se foi expandindo e dissipando ao longo do tempo. Até agora, as partículas serão demasiado pequenas para serem captadas pelo Hubble.

A equipa conseguiu também verificar que Dagon não está a orbitar a estrela – está numa trajetória de fuga, afastando-se de Fomalhaut.

As conclusões deste estudo foram publicadas esta semana na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

ZAP //

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