Caos total na fuga do hospital al-Shifa. Israel nega ter dado uma hora para a evacuação

Mohammed Saber / EPA

As autoridades palestinianas afirmam que as tropas israelitas exigiram a evacuação do hospital em apenas uma hora, algo que Israel nega.

O Exército israelita (IDF) negou hoje ter dado aos médicos, doentes e deslocados que permanecem no hospital palestiniano al-Shifa, situado no norte e o maior de Gaza, um prazo de uma hora para saírem, como tinha afirmado o Ministério da Saúde de Gaza.

De acordo com o IDF, o Exército “acedeu ao pedido do diretor do Hospital al-Shifa para permitir que outros habitantes de Gaza que se encontravam no hospital e desejavam sair o fizessem por via segura“.

“Em nenhum momento o Exército ordenou a retirada de pacientes ou de equipas médicas e, de facto, propôs que qualquer pedido de retirada médica fosse facilitado pelo Exército”, refere o comunicado militar.

Anteriormente, o ministério da Saúde de Gaza, controlado pela ala política do Hamas, informou: “O Exército de ocupação dá aos médicos, pacientes e pessoas deslocadas a possibilidade de saírem do hospital al-Shifa em Gaza no prazo de uma hora“.

O chefe do departamento de Ortopedia, Adnan al-Bursh, citado pelo ministério, disse que a ordem tinha criado um “grave estado de pânico e medo” dentro do hospital e sublinhou que os médicos não deixariam o hospital sem os pacientes.

Entretanto, o diretor-geral da saúde de Gaza, Munir al-Bursh, denunciou que as tropas israelitas retiraram corpos da morgue do hospital, bem como do cemitério escavado no interior do perímetro da instalação médica.

De acordo com as Nações Unidas, há atualmente 2300 pacientes, prestadores de cuidados e pessoas deslocadas nestas instalações, e a preocupação internacional com o seu destino é cada vez maior.

Israel insiste que o Hamas, que detém o poder em Gaza desde 2007, está a utilizar o hospital como base militar. O exército israelita afirma que o al-Shifa esconde um centro de comando do Hamas e é, por isso, um alvo militar.

Nos últimos dias, cercou o local e efetuou várias incursões limitadas às suas instalações, nas quais afirma ter descoberto armas e um túnel utilizado pelo grupo islamita Hamas. O Hamas tem repetidamente negado as acusações de que usa o hospital como um centro de operações militares.

Conflito já fez 16 mil mortos

A maioria do pessoal médico e dos pacientes que se encontravam no hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, abandonou o local depois do alegado ultimato militar de Israel.

Pelo menos cinco médicos permaneceram no hospital para supervisionar a coordenação da partida de cerca de 120 feridos que permaneceram nas suas instalações, bem como de 30 bebés prematuros, segundo um comunicado da direção-geral do ministério da Saúde de Gaza.

Os testemunhos citados pelo ministério da Saúde refletem momentos de caos e angústia no interior do complexo médico antes da evacuação, como o facto de “muitas crianças e adultos não poderem continuar a caminhar” ao longo do percurso fornecido pelas tropas para a rua Al Wahda, na direção da estrada Salah al Din.

Esta estrada é a via estabelecida por Israel para os palestinianos do norte de Gaza se deslocarem para sul.

O diretor do ministério da Saúde, Munir al-Barsh, foi uma das pessoas que abandonaram o centro e, segundo o seu testemunho, toda a área em redor do hospital está “totalmente destruída“.

“Ouvimos os feridos e não pudemos ajudá-los, havia pessoas a morrer“, disse al-Barsh, citado pelo ministério, antes de advertir que muitos doentes podem morrer no caminho da retirada, que são obrigados a fazer a pé, disse.

O responsável disse ainda que os 30 bebés prematuros que estavam a ser precariamente tratados no hospital, que está praticamente fora de serviço há dias devido a um corte de energia e à falta de combustível por causa do cerco israelita, permaneceram no hospital.

Segundo o responsável, foram coordenados esforços com a Cruz Vermelha para que a organização possa cuidar dos bebés.

No entanto, lamentou a morte de seis bebés prematuros devido à situação precária, bem como a morte de seis doentes de diálise e de 22 outras pessoas na Unidade de Cuidados Intensivos.

O supervisor das urgências do centro, Omar Zaqut, que também foi retirado, insistiu que o Exército os tinha tirado do hospital “sob a mira de uma arma” e exortou-os a usar uma bandeira branca ou lenços brancos.

O ministério da Saúde, controlado pela ala política do grupo islâmico Hamas, também mostrou imagens supostamente anteriores à evacuação da área de emergência, mostrando o caos total com pacientes deitados no chão e dezenas de pessoas a circular.

O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza estima que mais de 16 mil pessoas tenham morrido no território, nos 43 dias de conflito entre o grupo islamita palestiniano Hamas e as forças de segurança de Israel.

Um porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza sublinhou à agência espanhola Efe que estas contagens são “estimativas” e garantiu que “o número real é muito maior”.

De acordo com a mesma fonte, pelo menos 3500 pessoas permanecem debaixo dos escombros de edifícios bombardeados pelas forças israelitas, que prosseguem com os ataques ao território.

A última contagem das autoridades palestinianas dava conta de cerca de 12 mil mortos, entre os quais 5000 crianças, e perto de 30 mil feridos, 70% dos quais menores, mulheres e idosos.

Dos 24 hospitais do norte da Faixa, apenas um, o Al-Ahli, situado na própria cidade de Gaza, está atualmente a funcionar e a admitir doentes.

As restantes unidades foram colapsando, uma a uma, depois de ficarem sem medicamentos, água potável, alimentos, eletricidade, combustível e internet.

ZAP // Lusa

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