Seja pelo seu aroma ou sabor adocicado, o limão Meyer é um dos citrinos mais adorados do estado norte-americano da Califórnia. O que muitos desconhecem é que esta fruta esconde um segredo negro – e chegou até a ameaçar a sua indústria.
O limão Meyer herdou o nome do funcionário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e “explorador de plantas” Frank N. Meyer, que introduziu mais de 2500 novas variedades na América do Norte.
O norte-americano percorria várias florestas chinesas, russas e japonesas em busca de espécimes desconhecidos, mas, enquanto viajava, passava a maior parte do tempo sozinho. A solidão fê-lo escrever inúmeras cartas ao seu chefe, o antigo explorador David Fairchild, nas quais versava sobre o desespero da sua solidão.
Para o animar, Fairchild recordava constantemente nas correspondências o impacto do trabalho de Meyer na dieta americana e na indústria agrícola. Segundo o Atlas Obscura, numa das missivas lê-se inclusive que “o seu limão chinês está a ganhar popularidade” no país.
Foi em Fengtai, perto de Pequim, que Meyer encontrou o limão doce, no verão de 1908. Cerca de 25 anos mais tarde, o Los Angeles Times dedicou uma das suas páginas à fruta, descrevendo-a como “um citrino que deveria ser plantado em todos os jardins da Califórnia”.
Meyer já não estava vivo para aplaudir a popularidade do seu limão, que depressa encheu jardins, terraços e coloriu até os parques de estacionamento de todo o estado.
Uma década depois, o limão perdeu a sua aura de glória ao pintar de negro todas as manchetes dos jornais da Califórnia: a fruta havia trazido para os Estados Unidos o “vírus da tristeza dos citrinos” (CTV).
De citrino-estrela a ameaça
O CTV pode matar uma laranjeira muito rapidamente, mas os persistentes limoeiros Meyer, apesar de portadores do vírus, conseguem florescer durante anos sem apresentar quaisquer sintomas. A transmissão do vírus para outras árvores de fruto foi lenta, mas assim que os cientistas confirmaram a transmissão, em 1956, os limoeiros Meyer foram “declarados uma ameaça” pelo Departamento de Agricultura do Estado.
A situação era tão urgente que motivou a primeira reunião da Organização Internacional de Virologistas de Citrinos na Universidade da Califórnia, em Riverside, em 1957. No encontro, cientistas e produtores de citrinos apelaram a medidas drásticas para os limões Meyer de todo o mundo.
A destruição destes limoeiros chegou até a ter repercussões políticas. Um deputado republicano, Patrick McGee, criticou as medidas que visavam a criação de zonas livres de limoeiros Meyer no condado de Sacramento, argumentando que o projeto de lei era “um dos mais perigosos” que algumas vez tinha lido, dado que permitia ao diretor de agricultura do estado da Califórnia entrar em qualquer casa ou em qualquer viveiro e ordenar a destruição das árvores.
A notícia que viria acrescentar um novo capítulo à história chegou em 1976, altura em que foi aprovado o primeiro limoeiro Meyer oficialmente livre de vírus, desenvolvido pela Universidade da Califórnia e cultivado pela Hobbs Nursery.
Este “limão melhorado” é o único tipo de limão Meyer que pode ser comprado nos Estados Unidos atualmente. Os livros de culinária falam das suas maravilhas e quem os prova dificilmente esquece o seu gosto adocicado, mas a verdade é que estes citrinos perfeitamente perfumados já esconderam um segredo (ou vírus) muito negro.