Influência é pequena e deve-se ao ângulo do plano orbital da Lua em relação ao equador.
Apesar de distar 384.403 quilómetros da Terra, a Lua parece ter um verdadeiro efeito nas alterações climáticas do planeta, nomeadamente na velocidade com que o ponto em que a meta climática de 1,5°C do mundo é ultrapassada. Um dos dados garantidos é que o ângulo do plano orbital da Lua em relação ao equador muda num previsível ciclo de 18,6 anos, mas não se sabia que impacto isto tem nas temperaturas de superfície da Terra.
Num novo estudo, Ed Hawkin, investigador da Universidade de Reading, no Reino Unido, e os seus colegas descobriram que o ciclo terá um modesto efeito de arrefecimento nas temperaturas médias globais de superfície desta década, seguido de um ligeiro aquecimento na década de 2030. O padrão poderia também ajudar a explicar parcialmente um suposto abrandamento do aquecimento global nos anos 2000.
Os investigadores acreditam que este ciclo altera, por exemplo, a forma como as marés afetam a mistura entre águas mais quentes à superfície do oceano e águas mais profundas e frias, alterando o ritmo a que os oceanos podem absorver calor. “É um efeito bastante pequeno”, ressalva Hawkins. O tamanho estimado do efeito de arrefecimento e aquecimento é de cerca de 0,04°C, ou seja, muito inferior à mudança do padrão climático de arrefecimento La Niña que o mundo está atualmente a experienciar.
“Ainda assim, mostra que estudamos todo o sistema climático, desde o sol até à lua e à Terra. E tentamos representar todos os fatores em que podemos pensar, e como eles podem afectar o clima”, diz ele. Embora o impacto da lua possa ser pequeno, Hawkins diz que merece ser incluído em modelos utilizados para projetar cenários climáticos futuros, se mais investigação confirmar os resultados, que ainda não foram publicados numa revista revisada por pares.
Sem ter em conta a influência da Lua, os modelos climáticos prevêem que o mundo excederá 1,5°C de aquecimento — um limiar que cerca de 200 países pretendem evitar no Acordo de Paris — entre 2028 e 2033. O fator no ciclo lunar restringe o intervalo previsto para 2029 a 2032. O calendário do ciclo atual também significa que em cenários de baixas emissões, o limiar de 1,5°C é suscetível de ser atingido cerca de um ano antes do que se pensava anteriormente.
A influência da lua acrescenta outra explicação para o facto de o Árctico estar a aquecer mais rapidamente do que o resto do planeta, devido à estrutura das águas, diz Hawkins. A fase de arrefecimento do ciclo lunar também coincidiu com um período de aquecimento global nos anos 2000 que foi mais lento do que os modelos previstos na altura. Os céticos do clima aproveitaram os dados para desacreditar o aquecimento global, embora os investigadores tenham posteriormente descoberto que houve um abrandamento menor do que o inicialmente previsto.
Hawkins diz que o seu estudo não capacita aos negacionistas das alterações climáticas de argumentos para culpar a Lua pelo fenómeno, como alguns fizeram com o Sol. “É um efeito pequeno; sobe e desce numa escala de tempo muito previsível de 18,6 anos”, diz. “Veremos períodos em que pode ser ligeiramente mais rápido, depois pode ser ligeiramente mais lento, mas é uma média. E por isso não pode explicar nenhuma das tendências de aquecimento a longo prazo que vemos”.
Joeri Rogelj do Imperial College London, cientistas que não esteve envolvido no estudo, diz que a pesquisa mostra que os efeitos da lua são pequenos e cíclicos, e que é “extremamente valioso” compreender tanto as influências humanas como naturais sobre as temperaturas da Terra. Ainda assim, diz que o impacto estimado sobre quando 1,5°C será atingido é tão pequeno que será insignificante, pois “desaparecerá no ruído das observações globais de temperatura”.