O maior medo de Salvador Dalí estava escondido à vista de todos nas suas pinturas

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Robson Fernandjes / Fotos Públicas

Salvador Dalí

O medo dos insectos era a maior fobia de Salvador Dalí e cerca de 10% do seu vasto catálogo de pinturas inclui estes animais.

Desde relógios a derreter, barcos com velas feitas de borboletas gigantes ou romãs a vomitar peixes a vomitar tigres, as pinturas de Salvador Dalí incluem algumas das imagens mais bizarras e icónicas do mundo da arte. Mas, afinal, o que é que inspirava as criações do artista mais renomado do surrealismo?

O fascínio de Dalí pela mente humana levou-o a descobrir as teorias de Sigmund Freud e a tentar explorar o seu próprio subconsciente em busca de inspiração. Um dos principais ingredientes do nosso subconsciente é o medo e, no caso de Dalí, há um que salta à vista: os insectos.

As formigas e os gafanhotos aparecem frequentemente nas pinturas do artista espanhol, simbolizando medos profundos e traumas que o acompanharam ao longo da vida.

Este medo teve origem em experiências traumáticas na infância, que Dalí detalhou na sua autobiografia, “A Vida Secreta de Salvador Dalí”. Um desses incidentes envolveu Dalí e o seu primo encontrarem um morcego ferido, apenas para descobrir mais tarde que estava a ser atacado por formigas. A visão do morcego, ainda vivo mas coberto de formigas, deixou uma impressão duradoura em Dalí.

Se as formigas o assombravam, os gafanhotos aterrorizavam-no ainda mais. O artista chegou até a comparar os rostos dos gafanhotos ao de um peixe assustador que tinha apanhado, uma semelhança que o assombrou durante toda a sua vida. Dalí sofreu também bullying de outras crianças que o atormentavam com gafanhotos, o que agravou ainda mais a sua fobia.

Como adulto, Dalí nunca superou o seu medo de insetos. Há até especialistas que sugerem que pode ter sofrido da Síndrome de Ekbom, uma condição em que os indivíduos sentem como se insectos invisíveis estivessem a rastejar na sua pele.

Este diagnóstico póstumo alinha-se com um incidente num quarto de hotel em Paris, onde Dalí, convencido de que uma mancha nas suas costas era uma carraça, raspou-a com uma lâmina — apenas para perceber que era um sinal inofensivo. O artista espanhol chegou até a dizer que preferia atirar-se de um precipício do que ter um gafanhoto pousado no seu rosto.

Os insetos são um motivo recorrente nas obras de Dalí, com aproximadamente 10% das suas 1176 pinturas a incluir estes bichos. O seu simbolismo também varia de acordo com a pintura, desde temas perturbadores de morte e decomposição, como visto em “Aranha da Noite — Esperança!” que retrata um corpo humano derretido coberto de formigas e uma mosca distorcida, reflectindo os horrores da Segunda Guerra Mundial. Em “A Persistência da Memória” — o famoso quadro dos relógios derretidos — um enxame de formigas também cobre um relógio de bolso.

 

Dalí também usava insetos para explorar as suas ansiedades sexuais. Em “O Grande Masturbador”, um gafanhoto agarra-se a um rosto gigante e distorcido, simbolizando medo e tensão sexual. Da mesma forma, em “A Fonte”, formigas cobrem a boca selada de uma mulher, representando a sexualidade reprimida.

 

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

  1. afinal em que ficamos? Insectos ou Insetos?
    A primeira é a correcta, mas sei que há quem prefira a segunda. Agora as duas ao mesmo tempo, conforme a linha, é que é confuso.

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