Os medicamentos que chegaram ao mercado ou se popularizaram nos últimos 25 anos permitiram “poupanças de mais de 560 milhões de euros anuais no sistema de saúde, resultantes de menores taxas de hospitalização e prevenção de outros custos diretos”.
O trabalho “O Valor do Medicamento em Portugal”, que é apresentado esta terça-feira em Lisboa, salienta a melhoria da qualidade de vida que os fármacos trouxeram aos doentes, com mais de 110 mil mortes evitadas desde 1990.
O estudo da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) analisou os impactos humanos e sociais que os medicamentos tiveram entre 1990 e 2015 em 8 doenças que afetam cerca de 20% da população em Portugal: VIH, sida, esquizofrenia, artrite reumatoide, diabetes, cancro do pulmão de células não pequenas, cancro colo-retal, insuficiência cardíaca crónica e doença pulmonar obstrutiva crónica.
De acordo com o presidente da Apifarma, João Almeida Lopes, os números a que chegaram são “impressionantes”. “Este estudo dá uma ideia clara que se há área onde parece fazer sentido investir é na tecnologia de saúde, especialmente nos medicamentos”, diz .
A equipa que desenvolveu o estudo explicou ao Público que o método usado para calcular o impacto dos medicamentos inovadores passou por “identificar pontos de inflexão nas estatísticas reais de mortalidade” e nas relativas aos “anos de vida não saudável por cada doente” e “analisar que inovações poderiam estar por detrás dessas inflexões”.
Milhares de milhões de euros evitados
Para chegar aos 560 milhões de euros de custos evitados ao sistema de saúde avaliaram-se “diversos estudos nacionais e internacionais, comparando, por exemplo, a redução do número de hospitalizações como resultado do uso de medicamentos inovadores”.
Foram considerados inovadores os fármacos que, tendo entrado no circuito de distribuição entre 1990 e 2015 ou que se vulgarizaram nessa altura, prolongaram a vida dos doentes ou reduziram o impacto da doença na realização de tarefas diárias.
Em 2015, na diabetes, por exemplo, pouparam-se 102 milhões de euros em hospitalizações, com um melhor controlo da glicemia, e 222 milhões noutros custos médicos diretos, como cirurgias e medicação para o pé diabético ou retinopatia diabética.
Na esquizofrenia, a utilização de antipsicóticos permitiu poupar, nesse mesmo ano, 72 milhões de euros em hospitalizações. Já na artrite reumatoide, a utilização de medicação resultou este ano numa poupança de 86 milhões de euros, uma vez mais devido a internamentos que não foram necessários.
Almeida Lopes explica que a ideia “foi ter uma visão global do que os medicamentos representam para a economia, para as pessoas e as poupanças que daí derivam”. “O que não faz sentido é não tratar as pessoas atempadamente”, acrescenta.
De acordo com o estudo, o acesso dos doentes a medicamentos inovadores em Portugal pode demorar até 38 meses. “Portugal é dos países mais lentos a aprovar novas tecnologias”, diz o presidente da Apifarma, referindo que, apesar do aumento registado, o orçamento da Saúde para 2019 continua a ser insuficiente.
“Faz sentido prevenir, diagnosticar e tratar o mais rapidamente possível com a tecnologia que mais se adaptar e melhores resultados der”, refere. “Se a tecnologia mais recente oferece mais resultados, temos de a usar”.