“Mata a emoção crua do jogo”. Dramas com o VAR marcam jogos do Sporting e Atlético

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Daniel Hambury / EPA

Os lances do penálti no jogo do Atlético de Madrid e o golo anulado ao Tottenham no último suspiro do confronto com o Sporting estão novamente a suscitar críticas à intervenção do VAR.

O VAR voltou a ser um protagonista indesejado nos jogos da noite passada na Liga dos Campeões. Para os sportinguistas, a sua intervenção ontem foi bem-vinda, mas há adeptos que não concordam.

No suspiro final do confronto de ontem entre o Tottenham e o Sporting, Harry Kane conseguiu meter a bola no fundo das redes e dar uma vitória os londrinos por 2-1 que lhes garantia já o apuramento para os oitavos de final.

Mas enquanto os adeptos e Antonio Conte celebravam o golo, as comemorações foi abruptamente interrompidas durante quatro minutos — e não foram retomadas. O VAR analisou o lance o acabou por ser decretado um fora de jogo que anulou o golo, voltando o resultado a ser 1-1.

Dado ter sido mesmo já no final da partida, só houve tempo para Adán bater o pontapé de baliza antes do apito final. Conte acabou por ser expulso por protestar a anulação do golo de Kane.

“Sabem que eu não comento as decisões do árbitro, mas o VAR esta temporada; não temos tido sorte”, disse o treinador no final do jogo. “Eu não vejo honestidade neste tipo de situação e quando isso acontece, fico muito revoltado”, afirma.

Conte apelou ainda à resposta da estrutura do clube. “Espero que o clube entenda isto e que na situação certa também falem com quem têm de falar porque caso contrário é apenas o treinador a falar. Acho que o clube tem de ser forte porque, repito, estas situações causam danos grandes. Agora não sabemos o que acontece na próxima semana”, remata, citado pelo The Guardian.

O ex-jogador do Tottenham, Jamie O’Hara, considera o VAR uma “desgraça absoluta” e o também ex-jogador Gary Lineker descreve a decisão como “ridícula”. “Odeio a forma como o VAR está a ser usado”, critica.

“Não me parece que esteja fora de jogo, mas se está ou não, é irrelevante. Não gosto do VAR por isso, como adepto de futebol, está a matar a emoção crua do jogo“, afirma Andros Townsend, ex-jogador do Tottenham, à BBC.

Glenn Hoddle vai ainda mais longe e acredita que a tecnologia vai levar a que os adeptos deixem de ir ao estádio. “Como jogadores, queremos celebrar um golo e os adeptos querem que celebremos o golo. Agora, os jogadores vão deixar de celebrar para esperar pelo VAR. Está a roubar tudo aquilo de que gostamos do futebol”, diz.

“As pessoas vão deixar de ir aos estádios, vão ver mais na televisão. Não queremos isso porque queremos ter uma atmosfera. Os adeptos no estádio estão a celebrar, mas temos de esperar, quanto tempo, quatro minutos? Está a cansar o jogo, a roubar o entusiasmo de ver a nossa equipa a marcar”, considera.

No sentido contrário, Rúben Amorim agradeceu a decisão do VAR, considerando que a introdução da tecnologia foi positiva porque é justa na “maioria das vezes”. “Há problemas às vezes, são decisões difíceis. Para mim foi bom. Para mim é bom para melhorar o futebol. Para os adeptos às vezes não é tão bom”, comenta.

“Não costumam apitar penáltis assim”

Em Madrid, também houve muita contestação a uma decisão do VAR também já mesmo no final da partida entre o Atlético e o Bayer Leverkusen. O resultado acabou por ditar a eliminação das duas equipas, que vão agora lutar por um lugar na Liga Europa, estando o Porto e o Clube Brugge já qualificados.

Também nos instantes finais do jogo e com os membros da equipa técnica a entrar em campo por acharem que a partida já tinha acabado, o árbitro foi ver as imagens e, cinco minutos depois, acabou por dar um penálti ao Atlético por uma mão na bola.

Yannik Carrasco acabou por não conseguir converter a oportunidade e o ressalto da bola após a defesa do guarda-redes foi ter com Saul Niguez, que também falhou ao alvo e acertou na trave. A bola voltou a ressaltar para Reinaldo, cujo remate foi bloqueado em cima da linha por Carrasco. O resultado final ficou selado nos 2-2.

“É a primeira vez que vejo que voltam a apitar depois de um jogo terminar e marcam um penálti, mas com o VAR há situações assim. O penálti é muito duvidoso. Na Europa não costumam apitar penáltis assim. Acho que o ponto é merecido, podíamos ter perdido, mas podíamos ter ganhado também”, comentou Xabi Alonso, técnico do Leverkusen, no fim do jogo.

Lukáš Hrádecký, guarda-redes do Leverkusen, admite que não foi o “melhor jogo” da equipa, mas que mostraram “personalidade”. “É um pequeno passo na direcção certa”, afirma. Já Jan Oblak, guardião do Atlético de Madrid, descreve o resultado como uma “maneira muito cruel de perder” e pede desculpa aos adeptos que “merecem muito mais”.

Especialista explica as regras

A especialista em regras de futebol e árbitra Christina Unkel explica à CBS o que se passou no jogo entre o Tottenham e o Sporting.

“Agora temos a tecnologia semiautomática do fora de jogo, que acompanha imediatamente a linha assim que ele tocou na bola. O sistema acompanha a linha onde a bola está. Quando há um toque do jogador, é aí que traçamos a linha e é importante ter o frame certo, porque um ou dois frames antes, ele não está fora de jogo”, adianta.

Sobre a mão na bola no jogo do Atlético, “a aplicação da regra é muito restrita”. “Estes são árbitros da UEFA e agora vão ter interpretações da FIFA onde as mãos na bola também são muito rigorosas. Aqui estamos a falar de um primeiro toque com a mão, não o segundo. O segundo é natural, enquanto o primeiro é o que chamamos de ofensa de manipulação deliberada”, remata.

Já relativamente à decisão de deixar os jogadores do Atlético continuar a atacar no ressalto do penálti, Unkel explica que “mal o pontapé seja batido, está a estender o tempo e a jogada tem de ser completada”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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