A escritora Maria Teresa Horta é a única portuguesa na lista do canal público britânico BBC com as 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, a par de nomes como Sharon Stone e Rebeca Andrade, entre outras.
Maria Teresa Horta que se distinguiu, sobretudo, como poeta, é “uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados”, destaca a BBC.
O canal britânico realça, em particular, o livro “Novas Cartas Portuguesas”, obra escrita em co-autoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, ambas já falecidas.
No livro, as autoras denunciam as opressões a que as mulheres eram sujeitas durante o Estado Novo, referindo a violência fascista, a guerra colonial, a emigração e a pobreza que dominava o país.
A obra foi banida e censurada pelo regime de Salazar no ano da sua publicação, em 1972, e levou as autoras a tribunal por alegada ofensa à moral pública, segundo os padrões da censura da época.
“As Três Marias” foram notícia em todo o mundo
As três autoras ficaram conhecidas como “Três Marias” durante o julgamento que “fez manchetes e inspirou protestos em todo o mundo”, escreve a BBC.
O impacto internacional da obra deu-se logo pouco depois da sua divulgação em França, pela escritora Simone de Beauvoir, e pelo conhecimento público do processo onde eram visadas as “Três Marias”.
Vários meios de comunicação internacionais (entre os quais Le Monde, Time, The New York Times, Nouvel Observateur e televisões norte-americanas) acompanharam o julgamento que levou a manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal no estrangeiro.
Também houve diversas personalidades internacionais, como Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch e Delphine Seyrig, a defenderem publicamente a obra e as autoras.
O caso que envolveu Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa foi considerado a primeira causa feminista internacional numa votação na conferência da National Organization for Women (NOW), em Boston, em Junho de 1973.
O caso foi simbólico na queda do regime de Salazar que se deu com a Revolução de 25 de Abril de 1974 que celebrou este ano o 50.º aniversário, recorda a BBC.
Maria Teresa Horta tem sido amplamente premiada ao longo da sua carreira literária, destacando-se, só nos últimos anos, o Prémio Autores 2017 para o melhor livro de poesia (“Anunciações”).
Também recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura em 2020, e foi condecorada, em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
Em 2021, ganhou o Prémio Literário Casino da Póvoa com a obra “Estranhezas”.
Sharon Stone, Giséle Pelicot e uma freira italiana
A lista “BBC 100 Women” deste ano inclui nomes de pessoas mais conhecidas, como a actriz norte-americana Sharon Stone, a artista britânica Tracey Emin e a iraquiana Nadia Murad, vencedora do Prémio Nobel da Paz que foi vítima de violência sexual do Estado Islâmico.
Na lista aparece ainda a sobrevivente do caso de violação em França Gisèle Pelicot que se tornou num “símbolo de coragem e resiliência”, realça a BBC.
Entre as 100 mulheres mais inspiradores está ainda a lutadora indiana Vinesh Phogat, campeã olímpica e uma crítica das atitudes sexistas contra as mulheres no desporto.
Mas a lista inclui também a freira italiana Eugenia Bonetti que se tem dedicado a ajudar mulheres migrantes vítimas de tráfico humano e exploração.
As brasileiras Lourdes Barreto, activista pelos direitos das prostitutas, a ginasta Rebeca Andrade e a bióloga Silvana Santos também estão na lista, que teve em conta a imparcialidade e a representação regional.
Mulheres “tiveram de se esforçar muito”
A BBC salienta que, ao longo do ano, as mulheres “tiveram de se esforçar muito” para encontrarem novos níveis de resiliência e enfrentaram “conflitos mortais e crises humanitárias” em Gaza, no Líbano, na Ucrânia ou no Sudão.
A equipa do “BBC 100 Woman” elaborou a lista com base em nomes recolhidos através de pesquisas e de sugestões da rede das 41 equipas linguísticas do Serviço Mundial da BBC, bem como da BBC Media Action.
ZAP // Lusa
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