Marcha-atrás no Brexit? Regresso de Trump pode reaproximar o Reino Unido da UE

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Neil Hall / EPA

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido

O protecionismo comercial de Trump e as ameaças do corte do apoio norte-americano à Ucrânia estão a alimentar a esperança de uma reaproximação entre Londres e Bruxelas.

A vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas está a preocupar os brexiteers no Reino Unido, que receiam que a mudança na Casa Branca vá reatar os laços entre Londres e Bruxelas.

Com o regresso das políticas comerciais America First de Trump, os planos do Reino Unido para reforçar os acordos com Washington arriscam agora ir por água abaixo.

O recente desentendimento entre Trump e o primeiro-ministro Keir Starmer também arrisca ser outro fator que pode azedar as relações entre os dois países. A campanha Republicana avançou com uma queixa legal contra os Trabalhistas, acusando o partido de interferência estrangeira nas eleições norte-americanas com o envio de voluntários para trabalharem na campanha de Kamala Harris.

Em resposta, Starmer desvalorizou a polémica, referindo que os membros Trabalhistas estavam a fazer voluntariado em nome pessoal e não como representantes do partido. “Foi o que fizeram em eleições anteriores, é o que estão a fazer nestas eleições, e isso é muito simples”, respondeu, garantido que tem uma boa relação com Donald Trump.

A líder Conservadora, Kemi Badenoch, apelou esta semana o Governo a não se afastar de Washington, lamentando que “o partido Trabalhista não está interessado em nada, exceto na UE”.

Um responsável europeu avança ao Politico que o regresso de Trump está a criar esperanças em Bruxelas de uma reaproximação com os vizinhos, especialmente com a promessa trumpista de impor tarifas generalizadas entre 10% a 20% às importações, o que ameaça acender uma guerra comercial com a UE.

“Duas pessoas disseram-me nas últimas 48 horas que a resposta política a Trump é um investimento maciço na defesa, aprender como lidar com as tarifas e forjar novos acordos de segurança com países terceiros. O Reino Unido estava no topo da lista”, revela a fonte.

A UE não é a única que sai a perder com o protecionismo americano. De acordo com dados do Gabinete de Responsabilidade Orçamental do Reino Unido, o “impacto contínuo do Brexit” continua a ser sentido nos fracos números do comércio, com o bloco europeu a continuar a ser um aliado importante para os britânicos.

As tarifas planeadas por Trump podem complicar ainda mais os esforços de Londres de cortar o cordão umbilical com Bruxelas, já que podem custar 22 mil milhões de libras por ano em exportações, segundo as estimativas do Centro de Política Comercial Inclusiva da Universidade de Sussex.

As linhas vermelhas de Starmer de manter o Reino Unido fora do mercado único, da união aduaneira e da liberdade de circulação têm sido o principal obstáculo às negociações até agora, mas a reeleição de Trump pode obrigar o primeiro-ministro a repensar estas exigências.

“O Reino Unido precisa de rever as suas linhas vermelhas e de apresentar um novo plano. Quando as circunstâncias mudam, é preciso repensar o curso de ação”, refere outro diplomata.

Preocupações com a Defesa

O comércio não é o único assunto que promete ser um espinho nas relações entre o Reino Unido e os Estados Unidos: o receio de que Trump abandone o apoio à Ucrânia é outro fator que pode unir Londres e Bruxelas. “Dependendo da extensão das artimanhas de Trump, pode-se imaginar que a pressão poderá aumentar para aprofundar a cooperação também noutras áreas”, afirma o diplomata.

Com as constantes críticas de Trump à NATO e as exigências de que os aliados invistam mais na Defesa e sejam menos dependentes dos EUA, Nick Harvey, antigo ministro das Forças Armadas no Governo de David Cameron, deixa alertas sobre o perigo de o Reino Unido não se aproximar de Bruxelas.

“Não podemos ser o 51.º estado da América – não faz sentido geográfico, político ou industrial. Se nos apegarmos pateticamente às suas caudas, em vez de sermos um interveniente importante na defesa da Europa, pagaremos um preço por essa loucura”, considera, frisando que “seria potencialmente suicida, tanto militar como economicamente” não reforçar os laços com a UE.

O Reino Unido poderia então assinar acordos “prontos para uso” ao seu próprio ritmo, como a participação em projetos conjuntos de defesa da UE ou reavivar uma relação com a Agência Europeia de Defesa.

Questionado sobre este novo cenário, Keir Starmer disse não querer entrar numa “discussão hipotética” e recusa ter de escolher entre os EUA e os aliados europeus.

“Obviamente, os países europeus são os nossos parceiros comerciais mais próximos e temos uma longa história partilhada. Mas igualmente a relação especial com os EUA que foi forjada em circunstâncias difíceis, é extremamente importante para o Reino Unido. Quero garantir que temos boas relações com todos os nossos aliados importantes, e isso inclui a UE e os EUA”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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3 Comments

  1. Alguém sabe qual é o tempo minimo, no Reino Unido, para fazer um referendo sobre a mesma coisa? … 🙂

    • Outro?!? Se quiserem, ficam como país associado, mas sem direito a voto. O pior que poderia voltar a acontecer, eram as excepções britânicas. Já agora, aproveitar para aprovar um mecanismo para suspender os países que não cumprem com o pré-estabelecido. Se mudaram de ideias, temos pena, mas o caminho da rua está livre.

      • Aliás, Portugal, Espanha, Itália e Grécia já deviam ter saído e há muito tempo!
        Livrar-nos das hiper regulamentações parvas de Bruxelas, disso é que precisamos!

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