Maradona, Panda roubado e binómio improvável. Como Itália voltou a ser de Nápoles

Ciro Fusco / EPA

Diego Maradona reencarnou no coração de todos os adeptos italianos, que viram o seu clube voltar a ser campeão 33 anos depois.

Trinta e três anos depois, o Nápoles volta a fazer a festa de campeão italiano. A última vez que o fez, Diego Armando Maradona era a estrela da companhia. El Pibe já não está cá para ver novamente o clube do seu coração levantar o troféu, pelo menos fisicamente. Isto porque esta quinta-feira — e um pouco por toda a temporada — o argentino esteve em espírito com os jogadores napolitanos.

Depois da festa adiada, em casa, frente ao Salernitana, o Nápoles confirmou o título com um empate em visita ao reduto da Udinese. A equipa até esteve a perder, mas um golo de Victor Osimhen levou os adeptos à loucura.

O avançado nigeriano é precisamente um dos orquestradores do título. Contratado ao Lille por um valor recorde de 75 milhões de euros, em 2020, Osimhen justificou o seu valor. Esta temporada, em 34 partidas disputadas até agora, marcou 27 golos.

Osimhen formou um binómio improvável com um jogador cujo nome é praticamente impronunciável: Khvicha Kvaratskhelia. O georgiano de 22 anos cumpre a sua primeira época numa grande liga europeia, depois de ter sido contratado ao Dinamo Batumi, do seu país natal. Os 14 golos e 14 assistências foram cruciais para o desempenho do emblema napolitano.

Kvaratskhelia já atraiu até o interesse de vários colossos europeus. “O contrato do jogador foi acertado há, apenas, um ano. É válido até 2027”, avisou De Laurentiis, presidente do Nápoles. “Renovação? Que renovação? Os contratos são feitos por duas partes e nós assinámos por cinco anos, não por um. Não existem problemas”.

A verdade é que o Nápoles conseguiu colmatar as saídas de dois elementos importantíssimos para o clube. Mertens e Insigne foram pesos pesados do Nápoles durante várias épocas, mas saíram recentemente.

De Laurentiis não teve papas na língua ao falar sobre os seus ex-jogadores: “Não tivemos dificuldades em remover as ovelhas negras. Agora somos um só corpo, 11 ou 22, e não três, quatro, cinco ou um”.

Falar do título azzurri sem falar de Luciano Spalletti seria um sacrilégio. O técnico italiano está a ser um dos principais responsáveis pelo sucesso da equipa, mas inicialmente a sua contratação não foi bem vista pelos adeptos.

Em maio do ano passado, adeptos napolitanos roubaram o carro de Spalletti. Foi, na realidade, um sequestro. Uma tarja exibida pela claque sugeria que para devolver o veículo, um Fiat Panda, o treinador de 64 anos teria de sair do clube.

Certamente os adeptos não imaginariam que, sensivelmente um mês depois, estariam a gritar pelo nome do técnico. Era um mal de 33 anos que teimava em não passar. Será uma eterna dívida que nunca poderá ser paga.

Olhos na Liga dos Campeões

O Nápoles fez também um bom percurso na Liga dos Campeões, com o clube a cair no quartos de final, eliminado pelo AC Milan. Com este desgosto atravessado, mas com olhos já no futuro, o presidente azzurri diz que o objetivo agora é conquistar a Champions.

“Hoje é a coroação de uma espera de 33 anos. Quando cheguei disse que em dez anos estaríamos na Europa, uma promessa cumprida de antemão. Depois disse que seriam dez anos para o Scudetto e ganhámos com avanço. Agora há que voltar a ganhá-lo e falta a Champions”, disse o líder dos napolitanos em declarações à DAZN.

“Esta equipa encheu-se de responsabilidade e precisávamos de uma punhada de ar fresco no grupo. Agora ganhámos, sabendo que construímos este Scudetto ao longo dos anos. Este Scudetto é um novo ponto de partida. Agora não devemos parar, isto deve ser um começo e para isso, Osimhen e Kvaratskhelia não se mexem, não se toca neles”, acrescentou.

Na ressaca da conquista, Luciano Spalletti não esquece a importância de El Pibe. “Maradona jogou aqui e neste resultado há também a sua proteção”, atirou.

O lado negro do triunfo

Um homem de 26 anos morreu esta madrugada em Nápoles devido a ferimentos de bala durante as comemorações dos adeptos da equipa da cidade, que garantiu esta quinta-feira o terceiro título de campeão italiano de futebol.

Três outros adeptos foram também alvejados na praça Garibaldi, perto da estação central.

Daniel Costa, ZAP //

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