O mapa foi desenhado num pergaminho onde o texto original tinha sido raspado para se poder escrever por cima, estando escondido à frente de todos. Os cientistas suspeitam que tenha sido da autoria do astrónomo grego Hiparco.
Enquanto observava fotografias de um manuscrito antigo durante o confinamento, um historiador especializado na Idade Média descobriu aquele que se pensa ser o mapa de estrelas mais antigo alguma vez encontrado, escondido debaixo de um texto cristão que foi escrito por cima.
De acordo com um novo estudo publicado na Journal for the History of Astronomy, o mapa terá sido feito pelo astrónomo grego Hiparco (190-120 A.C.), que foi dos primeiros a desenhar a posição das estrelas no céu e cujo catálogo de mapas é procurado há séculos.
O manuscrito foi encontrado no Mosteiro de Santa Catarina, na Península do Sinai, no Egipto, e contém textos siríacos dos séculos X e XI que foram escritos em pergaminhos que foram usados como palimpsestos, ou seja, os textos originais foram raspados para que se pudesse escrever novamente por cima.
Já desde 2012 que os cientistas estavam a tentar decifrar o que tinha sido escrito originalmente no papel, antes de o conteúdo ter sido raspado. Foi até descoberta uma passagem em grego que foi atribuída ao astrónomo Eratóstenes.
As páginas foram analisadas com modelos de imagem multiespectral, que fotografam as páginas com vários comprimentos de onda de luz. Depois, os investigadores usaram algoritmos que combinaram as imagens de forma a que o texto que foi apagado fosse mais perceptível.
Com este método, foram descobertas coordenadas de estrelas no meio de relatos de mitos sobre as origens das estrelas, que terão sido escritos por Eratóstenes nos séculos V ou VI, relata o IFLScience.
A Terra cumpre um ciclo a cada 26 mil anos conhecido como precessão, — um fenómeno descoberto pelo próprio Hiparco — quando oscila ligeiramente no seu eixo, o que leva a que a localização das estrelas no nosso céu nocturno se altere em cerca de um grau a cada 75 anos.
Tendo em conta estes cálculos, os cientistas conseguiram estimar quanto este mapa secreto foi feito — e os resultados coincidem com o período em que Hiparco estava a trabalhar. Já há séculos que os académicos procuram pelo seu Catálogo de Estrelas, devido às várias referências a este espalhadas pelos textos antigos.
Nenhum manuscrito alguma vez foi encontrado, o que alimentou suspeitas de que o documento nunca sequer existiu. A equipa acredita que esta nova descoberta dá um novo fôlego às buscas.
“O novo fragmento deixa tudo muito, muito mais claro. Este Catálogo de Estrelas, que paira na literatura como uma coisa quase hipotética, tornou-se muito concreto“, afirma Mathieu Ossendrijver, historiador de astronomia.
A equipa quer agora usar as mesmas técnica noutros textos e manuscritos. Quem sabe quais os tesouros que podem estar escondidos à vista de todos?