Os países que comprarem óleo de palma da Malásia receberão um presente de volta — orangotangos. Programa é inspirado na diplomacia do panda chinês.
A nação do sudeste asiático, que não tem planos de conservação para estes primatas, planeia criar o que chama de “diplomacia dos orangotangos” como forma de promoção do polémico óleo de palma, usado numa grande variedade de produtos, desde champôs a produtos alimentares como gelados, pão ou na Nutella — que já foi alvo de várias tentativas de cancelamento por usar o vegetal no seu famoso creme de avelã com cacau.
O programa é inspirado na diplomacia do panda chinês. A China empresta pandas, geralmente por 10 anos, aos países que cumpram as condições necessárias para a sua manutenção. A Malásia é um desses países: recebeu dois, em 2014, e construiu-lhes um recinto multimilionário com ar condicionado no Jardim Zoológico Nacional de Kuala Lumpur.
O novo plano visaria os países que compram óleo de palma para “provar” o empenho da Malásia na conservação e na biodiversidade, segundo o Ministro das Plantações e Produtos de Base do país, citado pela Al Jazeera.
No entanto, o programa não foi explicado em pormenor nem se sabe quando terá início. Sabe-se apenas, por enquanto, que serão a China, Índia e até alguns membros da União Europeia — os maiores importadores de óleo de palma — a receber os primatas, caso a medida siga em frente.
Um vegetal polémico
A notícia, como era de imaginar, não foi bem recebida pelas associações ambientais, até porque o orangotango — que só está presente na ilha de Bórneu e na ilha indonésia de Sumatra — encontra-se em perigo de extinção.
Além disso, é uma forma de a Malásia, segundo maior produtor mundial de óleo de palma — a seguir à Indonésia — promover ainda mais o desenvolvimento em massa de uma indústria que alimenta a desflorestação e a destruição de habitat dos próprios orangotangos, entre outras espécies, como o rinoceronte, em vários pontos do mundo.
Apesar dos esforços da indústria em melhorar a sustentabilidade da exploração do óleo, através da criação de grupos como a Mesa Redonda para o Óleo de Palma Sustentável (RSPO), a exploração intensiva prejudica não só os habitats naturais, mas também viola os direitos das comunidades locais e indígenas, que frequentemente são deslocadas sem o devido consentimento ou compensação adequada.
A desflorestação, a produção de plantações de óleo de palma e a conversão em novas florestas são também atividades associadas a surtos de doenças, devido ao facto de facilitarem a passagem de mosquitos e outros animais.
Além disso, a conversão de florestas tropicais em plantações de palma contribui para as alterações climáticas, uma vez que estas florestas são importantes sumidouros de carbono.