Mais de 70% vagas para recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar ficaram por ocupar, segundo dados oficiais da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), avançados à Lusa, esta quarta-feira.
72% das 225 vagas para médicos recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar e 40% das 15 de Saúde Pública, no último concurso para recrutamento de 240 médicos, ficaram por preencher.
“Terminado o processo de concurso – época especial, destinado à contratação de médicos recém-especialistas para as áreas de Medicina Geral e Familiar (MGF) e de Saúde Pública (SP), informamos que foram ocupadas 63 vagas em MGF [28%] e 9 em SP [60%]”, refere a ACSS numa resposta à agência Lusa.
Apesar das vagas por ocupar, no final de dezembro, em entrevista ao Jornal de Notícias, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) Joana Bordalo e Sá criticou o número reduzido de vagas para Medicina Geral e Familiar.
A dirigente apontou logo que o número de vagas é “altamente discrepante” da grande necessidade dos utentes.
Quem precisa não pode abrir vagas
Joana Bordalo e Sá, da FNAM, já dizia, em dezembro, que sabia que muitas vagas iriam ficar por ocupar, porque se estão a abrir vagas de forma discrepante.
Além disso, quem precisa não pode abrir vagas: “Se as ULS não podem abri-las, as pessoas não podem concorrer”, afirmou, acusando a tutela da Saúde de “incompetência ou bloqueio reiterado“.
No caso, por exemplo, da ULS de Almada-Seixal (ULSAS), que pediu para que abrissem 14 vagas para essa especialidade, e apenas 1 foi concedida.
Problema: há 38 mil utentes dessa ULS sem médico de família.
Na segunda época de 2024, houve 75 médicos a terminarem a especialidade de Medicina Geral e Familiar. Três médicos que terminaram a especialidade na segunda época na ULSAS tinham intenção de ficar, e isso não foi permitido.
Há casos menos preocupantes, mas que também ficaram muito aquém do esperado. A ULS Tâmega e Sousa, por exemplo, pediu 11 vagas e só teve direito a uma. No entanto, esse hospital garante médico de família para todos os utentes.
Colocações por região
Segundo os dados da ACSS, o maior número de vagas ocupadas (22) para médicos de família foi na região Norte, distribuídas pelas Unidades Locais de Saúde (ULS) de Barcelos/Esposende (1), Braga (2), Entre Douro e Vouga (5), Gaia e Espinho (1), Matosinhos (2), Trás-os-Montes e Alto Douro (9), Alto Minho (1) e Tâmega e Sousa (1).
Dezanove médicos ficam a trabalhar em ULS na região de Lisboa e Vale e Tejo, nomeadamente na da Arrábida (1), da Lezíria (1), Almada-Seixal (1), Amadora-Sintra (2), Lisboa Ocidental (4), Santa Maria (1), São José (5), Arco Ribeirinho (1), Estuário do Tejo (1) e Médio Tejo (2).
Os dados precisam que 12 médicos de família foram colocados em ULS da região Centro, espalhados pelas Unidades Locais de Saúde de Aveiro (1), Leiria (6), Coimbra (3) e Dão-Lafões (2).
Quatro ficam na ULS do Algarve e seis na região do Alentejo, distribuídos pela ULS do Alentejo Central (1) e do Baixo Alentejo (5).
Relativamente aos médicos de Saúde Pública, dois foram colocados na região centro, nomeadamente nas ULS Viseu Dão-Lafões e Baixo Mondego), um em Lisboa e Vale do Tejo (ULS São José) e três na região Norte ULS Santo António, Trás-os-Montes e Alto Douro e Tâmega e Sousa.
A ACSS sublinha agora que o total de vagas disponibilizadas no concurso teve em consideração os 64 recém-especialistas, formados na época especial de 2024, e os recém-especialistas formados em épocas de avaliação anteriores, não detentores de vínculo definitivo no SNS.
Dos 64 médicos recém-especialistas formados na época especial de 2024, foram colocados 33 (51,6%).
ZAP // Lusa