Mais de 100 personalidades portuguesas defendem acesso universal a vacina

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Mais de cem personalidades portuguesas subscreveram a campanha “Vacina para todos”, que defende “o acesso universal, justo, simultâneo e equitativo” a uma futura vacina contra a covid-19, apoiando-se no “princípio ético de uma só família humana”.

Lançada em Portugal pela Academia de Líderes Ubuntu, um projeto do Instituto Padre António Vieira, a campanha associa-se à iniciativa “Declare Covid-19 vaccine a global common good” (Declarar a vacina Covid-19 um bem comum global), do Prémio Nobel da Paz Mohammad Yunus, e junta 117 personalidades portuguesas de variados setores sociais e políticos.

Entre os subscritores estão vários profissionais de saúde e figuras como o ex-Presidente da República Ramalho Eanes e os cardeais José Tolentino Mendonça e Manuel Clemente.

Em declarações à agência Lusa, Ana Jorge, médica, ex-ministra da Saúde (entre 2005 e 2011) e uma das porta-vozes da campanha, vincou o “princípio da solidariedade”.

Os 117 subscritores e apoiantes da campanha — explicou — defendem “o direito ao acesso para todas as pessoas que se queiram vacinar”, contra a ideia de que só “quem tem dinheiro é que tem acesso”.

Reconhecendo que “a vacina para todos poderia ser quase como uma utopia”, Ana Jorge sublinha que isso deve ser um objetivo. “Todas as pessoas têm direito à vacina, porque é a única forma de podermos combater eficazmente a pandemia. Se não tivermos esse objetivo não vamos conseguir aproximar-nos”, frisa.

A “chamada de atenção” coletiva assenta na premissa de que “a vacina deve ser para ricos e pobres, para países com capacidades financeiras e para países com menos capacidades económicas”, disse Ana Jorge, recordando que existem Estados sem acesso garantido aos cuidados de saúde e sem vacinas gratuitas.

Ana Jorge acredita que movimentos como este podem minimizar o risco da mercantilização da vacina e apela para a “responsabilidade social” das farmacêuticas, que “devem ser ressarcidas do seu investimento”, mas não como “uma oportunidade de grandes lucros”.

“Obviamente que há critérios de vacinação para definir as prioridades e as prioridades estão bem definidas e são consensuais entre toda a gente”, frisa a médica, concordando com a Organização Mundial da Saúde (OMS) na prioridade aos mais velhos, aos profissionais de saúde e aos doentes crónicos.

A pandemia de covid-19 afetou todo o mundo e todas as sociedades, mas, sublinha a porta-voz, “obviamente” que distinguiu as pessoas no que respeita ao acesso aos meios de prevenção e proteção.

Exemplo disso, diz, foram os surtos na zona da Grande Lisboa, que se explicam pelas condições de vida na periferia da capital, onde há “mais bolsas de pobreza”, mais “problemas de habitação, mais pessoas na mesma casa, mais concentração”, uma maior utilização dos transportes públicos e menos literacia em saúde e acesso à informação.

“A pandemia e os efeitos da doença são mais significativos e mais importantes na população mais carenciada ou mais pobre”, assinala a médica. “[A covid-19] é democrática, porque é grave de acordo com a idade e as patologias — e aí é igual para todos –, mas sabemos que essa população tem mais patologias e mais graves, porque tem menos acesso aos serviços e cuidados de saúde”, ressalva.

Perante este cenário, a defesa do acesso à vacina para todos e em simultâneo “é uma questão de justiça e equidade”, sustenta Ana Jorge em nome dos 117 subscritores, entre os quais estão também a socióloga Luísa Schmidt e a professora universitária Ana Paula Laborinho, ambas igualmente porta-vozes da campanha, atuais e antigos deputados, ex-governantes (Marçal Grilo, Silva Peneda, Braga da Cruz, Bagão Félix, Roberto Carneiro, Pedro Roseta, Luís Castro Mendes), o filósofo Viriato Soromenho Marques, os juristas Álvaro Laborinho Lúcio e Catarina de Albuquerque, a ex-procuradora Joana Marques Vidal, o psiquiatra Daniel Sampaio, a pintora Graça Morais, o músico Luís Represas, o judoca Nuno Delgado, a escritora Lídia Jorge, os jornalistas Adelino Gomes e Leonete Botelho.

Os subscritores da campanha reclamam uma informação “exata, clara, completa e transparente” por parte das autoridades públicas, das equipas científicas e do setor privado envolvidos na investigação de uma vacina em tempo recorde.

E instam também a OMS a “elaborar um Plano de Ação Mundial sobre a vacina Covid-19” e a criar “um comité internacional responsável pela monitorização da investigação da vacina e por garantir a igualdade de acesso à vacina para todos os países e todas as pessoas dentro de um prazo predeterminado anunciado publicamente”.

// Lusa

1 Comment

  1. Infelizmente, toda a gente tem dada como certa, a vacina. Quem lida com estas coisas sabe que o primeiro coronavirus foi descoberto na década de 1960. Hoje são conhecidos 7 que infetam os humanos e ainda não há vacina para nenhum deles. Por que diabo é que toda a gente acha que em pouco tempo iremos ter uma vacina para o SARS-COV2 (um dos 7) quando em 60 anos ainda não existe vacina para nenhum dos outros 6? Se eu tivesse que adivinhar, diria que provavelmente irá aparecer uma vacina dentro de 2, 3 anos (a ser otimista) mas entretanto a pandemia passou e ninguém a vai querer!

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