Máfia chinesa executa homem com seis tiros em Setúbal por dívida no tráfico de meixão

Ryoku Kasinn / Flickr

Jun Jun Fang foi executado com seis tiros, cinco deles na boca, em maio de 2019, em Setúbal. De acordo com o CM, os homicidas pertenciam a uma rede mafiosa chinesa – as chamadas tríades – que na altura se dedicaria, em Setúbal, ao tráfico de meixão – enguia-bebé que atinge os 20 mil €/quilo no mercado asiático.

Depois da morte do homem, os assassinos fugiram para Espanha. Quase dois anos depois, a cooperação internacional não deu frutos e os mandados internacionais de captura estão por cumprir, revela o CM.

Segundo o processo que se encontra no Ministério Público de Setúbal, a vítima terá pedido 70 mil euros emprestados à máfia chinesa, para investir num restaurante na região.

Contudo, há indícios de que terá falhado pagamentos e, numa tentativa de ganhar tempo, envolveu-se com a rede do meixão na busca por um armazém em Setúbal onde pudessem esconder a enguia bebé. O grupo mafioso estava acossado pela GNR por terem conseguido milhões de euros em meixão que estava pronto a rumar para a China em malas especiais.

Na noite de 3 de maio de 2019, Fang foi sequestrado, levado para a serra da Arrábida e depois executado e abandonado na zona da Sapec. O corpo foi abandonado sem documentos ou telemóvel para não ser identificado.

Como avança o CM, nos dias antes da sua morte, a vítima andou a pedir dinheiro a vários amigos, com o objetivo de poder entregar um valor substancial aos membros da rede mafiosa a quem deveria perto de 70 mil euros.

Os dois suspeitos têm antecedentes por extorsão, tráfico de droga e homicídio tentado. Um, de 49 anos, já tinha um mandado pendente, da comarca de Oeiras, por tráfico. Outro, de 55 anos, foi alvo de processo de expulsão em 2009. Ambos usam documentos falsos.

Após identificar os dois suspeitos, em tempo recorde, a PJ de Setúbal conseguiu que o Ministério Público emitisse mandados de detenção europeus e internacionais, uma vez que podem ter escapado de Espanha para a China. A única esperança é a cooperação internacional.

Negócio ilegal e milionário

O tráfico de meixão é a loucura no mercado asiático, especialmente na China, onde este atinge à mesa os 10 a 20 mil €/kg. Isso leva a que, em Portugal, haja quem arrisque todo o ano na captura ilegal – para conseguir 300 a 400 €/kg – montando, nos rios, redes ou capinetes onde a enguia bebé fica presa.

Apesar do contrabando terrestre para Espanha e França, o meixão é mais lucrativo quando enviado para a China, Tailândia, Vietname e Japão. Do rio, vai primeiro em camiões com tanques de água doce (com filtros de bombas de oxigenação), para armazéns com tanques maiores e onde o transporte internacional é preparado.

O primeiro traficante, que adquire aos apanhadores, consegue já 2000 €/kg. Chegando à China, o valor já vai nos 10 mil €/kg. Nesse país, o meixão que vai para a mesa é uma pequena parte.

A maioria é colocada em aquacultura e arrozais, para desenvolver até enguia adulta, após o que é vendido até de volta para a Europa, também de forma ilegal.

ZAP //

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