Madrid e Catalunha anunciaram esta quarta-feira que vão adiar a administração da primeira dose da vacina contra a covid-19 durante as próximas duas semanas, por falta de stock.
De acordo com o Jornal de Notícias, as duas regiões espanholas decidiram adiar a administração da primeira dose da vacina para tentar garantir que os residentes nos lares de idosos, respetivos funcionários e profissionais de saúde, que já tenham recebido a primeira dose, possam completar a imunização.
“Precisamos de um maior número de doses e precisamos delas já. Esta deve ser a maior prioridade da ministra da Saúde”, anunciou o vice-presidente da Comunidade de Madrid, Ignacio Aguado.
Os problemas de abastecimento das vacinas, que estão a afetar a toda Europa, levou a capital espanhola a receber apenas metade das doses que tinham sido prometidas para as duas últimas semanas – em vez de 48 mil, foram entregues apenas 24 mil.
O autarca e dirigente do Cidadãos afirmou que, se Madrid continuar com este ritmo de vacinação, no fim do verão só 10% da população estará imunizada.
De acordo com a mesma publicação, até ao momento só 4.703 pessoas receberam a segunda dose da vacina contra a covid-19 em Madrid, que continua no fundo da tabela, junto à Cantábria, como o segundo território onde se administraram menos vacinas, segundo os dados fornecidos diariamente pelo Ministério de Saúde.
Mas a Catalunha também não se encontra livre de problemas. De acordo com o secretário de Saúde Publica da Generalitat, Josep Maria Argimon, a região irá esgotar as vacinas já esta sexta-feira.
“Recebemos um total de 217 mil vacinas. 200 mil foram já administradas, repartindo 182 mil na primeira dose e 18 mil na segunda, pelo que faltam 17 mil que vão ser utilizadas nos próximos dois dias”, disse Argimon.
O dirigente catalão já alertou que, devido ao atraso da entrega de novas doses por parte da Pfizer, pelo menos 10 mil pessoas não vão poder receber a segunda dose na data definida e deverão continuar à espera da nova remessa para completar uma imunização satisfatória até 41 dias depois de receber a primeira dose.
“A Moderna está atrasada, a Pfizer envia menos vacinas e ainda não sabemos nada da AstraZeneca”, criticou Argimon.
75% das vacinas usadas em apenas 10 países
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, assinalou hoje que 75% das vacinas contra o novo coronavírus foram utilizadas em apenas 10 países, pedindo uma campanha de vacinação igualitária.
“As vacinas contra a covid-19 estão a ser dadas em 50 países em todo o mundo, quase todos nações ricas e 75% das doses foram inoculadas em apenas 10 países”, disse na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, num debate sobre a questão das vacinas contra o SARS-CoV-2.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa intervenção por videoconferência, considerou que não seria correto que os adultos jovens e sãos dos países ricos se vacinassem antes dos idosos e profissionais de saúde dos países pobres.
“Espero que compreendam”, adiantou o responsável, que já disse que o mundo “está à beira de um fracasso moral catastrófico” se os países ricos não partilharem as vacinas com os países pobres.
Segundo o diretor-geral da agência da ONU, “a situação é agravada pelo facto da maioria dos fabricantes priorizar a aprovação regulatória nos países ricos, em vez de apresentar dossiers completos à OMS para a listagem de emergência”.
Tedros disse ainda que os acordos bilaterais entre as empresas e os países estão a provocar uma corrida de preços, declarando-se preocupado com o “perigo real” da vacina só trazer esperança aos países ricos, enquanto grande parte do mundo fica para trás.
“A equidade da vacina não é apenas um imperativo moral. Acabar com a pandemia depende dela”, salientou, criticando os países que compraram mais vacinas do que as que necessitam.
O responsável defendeu ser essencial que o programa COVAX, iniciativa internacional para estender a campanha de imunização a todos os países, receba essas doses extra “rapidamente” e “não as sobras que existirão dentro de muitos meses”.
“Temos de trabalhar em conjunto para dar prioridade aos que apresentam maior risco em todos os países”, afirmou.
Segundo um estudo divulgado esta semana pela Câmara de Comércio Internacional e citado hoje por Tedros, o “nacionalismo da vacinação” pode custar à economia mundial 9,2 biliões de dólares (7,6 biliões de euros), dos quais 4,5 biliões (3,7 biliões de euros) às economias mais ricas.
ZAP // Lusa