“Diminui-se e ao seu país”. Macron acusado de reabilitar imagem do príncipe saudita Mohammed bin Salman

Cugnot Mathieu / EPA

O presidente francês, Emmanuel Macron.

A visita de Macron ao Médio Oriente marca a primeira vez em que um importante líder ocidental se vai encontrar com o príncipe saudita desde a morte do jornalista Jamal Khashoggi.

O presidente francês está a ser alvo de críticas depois de ter concordado encontrar-se com Mohammed bin Salman na Arábia Saudita, este sábado. Esta será a primeira reunião entre um importante líder político no Ocidente e o príncipe saudita desde o assassinato de Jamal Khashoggi, escreve o The Guardian.

Desde a morte do jornalista em 2018 que os representantes políticos ocidentais têm evitado reunir-se com o líder saudita no reino. Os Estados Unidos, que são velhos aliados da Arábia Saudita, também se têm tentado afastar do reino saudita, com Joe Biden a evitar falar com bin Salman numa tentativa de não lhe conferir legitimidade no plano internacional.

Neste contexto, a prontidão de Emmanuel Macron em conversar com o príncipe saudita está a ser alvo de muitas críticas, especialmente depois de há alguns meses as agências de inteligência norte-americanas terem divulgado um relatório onde afirmam que acreditam que bin Salman tinha conhecimento e aprovou o assassinato do jornalista.

“Qualquer que seja o interesse estratégico da França na Arábia Saudita, nada pode justificar a sua legitimação de um líder que mata jornalistas, ameaça ativistas, prende defensores dos direitos das mulheres, massacra civis do Iémen e engana a comunidade internacional”, condenou Agnès Callamard, francesa e secretária geral da Amnistia Internacional.

A líder da ONG considera ainda que Macron “se diminui a ele mesmo e ao seu país” ao conversar com Mohammed bin Salman.

Já Bruce Riedel, que integra o Brookings Intelligence Project e já foi analista da CIA, descreveu a reunião como o “carimbo de aprovação da França a MBS e à sua guerra no Iémen”.

“Qualquer vestígio de reprovação ocidental do comportamento saudita no Iémen foi agora removido. É uma demonstração notória da traição francesa ao povo do Iémen”, criticou, citando um relatório da ONU que concluiu que 400 mil crianças no país estavam em risco de morrer à fome devido ao conflito.

O Palácio do Eliseu já respondeu às críticas, defendendo a reunião e dizendo aos jornalistas que a Arábia Saudita é um “país importante na região” e que a França teria um “diálogo com exigências” com o reino.

A reunião também não vai servir para limpar a imagem do príncipe, garantiu a Presidência, sendo antes parte da estratégia a longo-prazo de Macron para advogar pela “estabilidade” na região, colocando a França como uma ponte para o diálogo entre o Golfo e o Mediterrâneo.

A Human Rights Watch também criticou a venda de armas da França a países do Médio Oriente e apelou a que Macron comente os abusos aos direitos humanos durante a visita, já que o silêncio equivale a “fechar os olhos” ao que passa. Para além da Arábia Saudita, Macron vai também aos Emirados Árabes Unidos e ao Qatar.

Adriana Peixoto, ZAP //

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