Lince ibérico marca território em Castelo Branco, 30 anos depois

Programa de Conservación Ex-situ del Lince Ibérico www.lynxexsitu.es / wikimedia

Exemplar de Lynx pardinus, o lince Ibérico

População tinha vindo a cair devido ao declínio d sua presa preferida: o coelho-bravo. Dada a forte presença de exemplares na Estremadura espanhola, é expectável que venham a atravessar a fronteira e entrem na Beira Baixa.

O lince ibérico consolidou a sua presença na região de Castelo Branco, onde há várias décadas não tinha uma presença regular, disse esta segunda-feira à agência Lusa Samuel Infante, da associação ambientalista Quercus.

Esta “é uma boa notícia” e “um desafio” para a sua conservação na região.

“Em Castelo Branco, após mais de 30 anos de ausência regular a presença da espécie foi detetada em 2021”, referiu Infante, apontando para a única presença regular até ao momento: uma fêmea.

“Desde 2021 que a Quercus e o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] têm monitorizado a presença de uma fêmea na região”, sublinhou.

O ambientalista disse ainda que, neste último ano, além da permanência dessa fêmea (Maguilla), “tem havido observações de outros indivíduos, assim como recolha de indícios em vários locais da região, o que indica pelo menos a passagem de outros exemplares”.

De acordo com a Quercus, a população de lince-ibérico em Portugal e Espanha atingiu os 1.668 exemplares em 2022.

Em Portugal, o número passou de 209 para 261 em 2022, tendo nascido 86 crias nesse ano.

Programa de Conservación Ex-situ del Lince Ibérico / Wikimedia

Lince Ibérico bebé

Samuel Infante adiantou que na Estremadura espanhola existem atualmente 176 animais, pelo que é expectável que venham a atravessar a fronteira e entrem na Beira Baixa.

“A área de distribuição de linces-ibéricos foi diminuindo até quase a sua extinção, em grande parte também por causa do declínio da presa preferida desta espécie o coelho-bravo”, sintetizou.

Apenas com o projeto Ibérico de reprodução em cativeiro e reintrodução foi possível inverter o declínio e quase extinção da espécie e recuperar algumas das zonas onde ocorria no passado.

Atropelamentos e projeto de nova estrada são desafios

Contudo a presença desta espécie apresenta vários desafios como a questão dos atravessamentos de estradas e o risco de mortalidade por atropelamento, que já foi registado em Portugal.

“Os atropelamentos representam 32% da mortalidade da espécie, nos animais marcados e seguidos por telemetria, pelo que é urgente preparar as infraestruturas viárias da região de Castelo Branco para a presença desta espécie de forma a minimizar o risco de atropelamentos e o efeito barreira”, defendeu o responsável da Quercus.

A intenção do Governo de construir o IC31, uma estrada numa região com elevado património natural e cultural (concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), “põe em causa o modelo de desenvolvimento sustentável e terá um impacto ambiental e social negativo muito significativo”.

A área onde se pretende construir esta infraestrutura linear [IC31] é habitat de Lince ibérico, que são zonas de carvalhais de Carvalho das beiras (Quercus pyrenaica), sobreirais e mosaico agrícola, sendo uma das últimas zonas na região com grande densidade de coelho bravo”, sustentou.

Neste âmbito, a Quercus apela à tutela que aplique a legislação que protege o lince e o seu habitat e implemente um conjunto de medidas efetivas de conservação dirigidas para esta espécie na região de Castelo Branco, nomeadamente que se avalie a permeabilidade das estradas, que sejam aplicadas medidas de minimização nas zonas com presença da espécie e abundância de coelhos.

Pede ainda que se trabalhe com os proprietários e entidades gestoras de zonas de caça da região para preparar a coexistência da espécie e as melhores praticas conhecidas em projetos como o IBerlynx ou o Lynxconnect.

“A Quercus apela também à tutela que sejam dados apoios diretos e majorações a agricultores e proprietários de Castelo Branco que tenham a presença desta espécie nas suas propriedades no âmbito do Plano Estratégico para a Política Agrícola Comum (PEPAC) à semelhança do que esta previsto acontecer para o Alentejo e Algarve”, concluiu

// Lusa

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