Líder do exército de trolls de Putin admite que interferiu (e vai interferir) nas eleições nos EUA

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Kremlin / Wikipedia

Yevgeny Prigozhin (dir), o cozinheiro-chefe de Vladimir Putin (c)

“Interferimos, estamos a interferir e vamos continuar”, afirma Yevgeny Prigozhin, que tem fortes ligações ao governo russo. O empresário já foi alvo de sanções e investigação nos EUA.

O empresário russo Yevgeny Prigozhin, aliado do presidente Vladimir Putin e alvo de sanções do Ocidente, admitiu esta segunda-feira interferência nas eleições nos Estados Unidos – confirmando pela primeira vez uma acusação que rejeitava há anos.

“Senhores, nós interferimos, estamos a interferir e vamos continuar a interferir”, afirmou Prigozhin em comunicado divulgado pela sua equipa. “Cuidadosamente, precisamente, cirurgicamente e da forma que fazemos, da forma que podemos.”

O russo de 61 anos, acusado de gerir uma “fábrica de trolls” para influenciar o resultado de eleições em vários países ocidentais, respondia a um pedido para comentar uma reportagem da agência Bloomberg que acusa a Rússia de interferir nas eleições de meio de mandato nos EUA.

O comunicado foi divulgado no último dia da campanha, na véspera da votação que marcará decisivamente o resto do mandato do presidente Joe Biden e que pode abrir caminho para um retorno do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca.

Exército de trolls nas presidenciais americanas

Em 2018, Prigozhin e uma dúzia de outros cidadãos russos, além de três empresas do país, foram acusados pelos EUA de operarem uma campanha secreta de redes sociais destinada a fomentar a discórdia e dividir a opinião pública americana antes da eleição presidencial de 2016, que deu a vitória ao republicano Trump.

Os acusados foram indiciados no âmbito da investigação sobre a interferência russa no ato eleitoral, liderada pelo ex-procurador especial Robert Mueller.

Em 2020, o Departamento de Justiça americano decidiu rejeitar as acusações contra duas das empresas indiciadas, Concord Management and Consulting LLC e Concord Catering, ambas de Prigozhin, pela inutilidade de realizar um julgamento contra réus corporativos sem presença nos EUA e sem perspetiva de punição significativa.

Em julho, o Departamento de Estado ofereceu uma recompensa de 10 milhões de dólares por informações sobre a interferência russa nas eleições americanas, incluindo sobre Prigozhin e sobre a organização russa Internet Research Agency (IRA), que as suas empresas foram acusadas de financiar.

O governo em Washington acredita que o Kremlin interferiu nas eleições presidenciais de 2016 através da IRA, acusada de disseminar desinformação na internet e que foi apelidada de “Exército Troll“.

A Rússia rejeitou veementemente as alegações e Prigozhin tinha também negado qualquer interferência nas eleições americanas – até agora.

Essa foi a segunda grande confissão do empresário russo nos últimos meses. Se anteriormente procurava manter as suas atividades longe dos holofotes, agora parece estar cada vez mais interessado em conquistar influência política, observam analistas.

Em setembro, Prigozhin confirmou que fundou o Grupo Wagner, organização paramilitar russa com fortes ligações a Moscovo e falou abertamente sobre o seu envolvimento na guerra de Moscovo contra a Ucrânia.

Recentemente, o General russo Alexander Lapin foi afastado da chefia na frente de batalha na Guerra da Ucrânia, após declarações muito críticas em relação ao seu “mau desempenho” proferidas, entre outros, por Yevgeny Prighozin.

“Cozinheiro chefe de Putin”

Ex-proprietário de uma barraca de cachorros-quentes, Prigozhin acabou por abrir um restaurante refinado em São Petersburgo que atraiu o interesse de Putin.

Durante o seu primeiro mandato, o líder russo levou o então presidente francês, Jacques Chirac, a jantar num dos restaurantes de Prigozhin.

“Vladimir Putin viu como eu construí um negócio a partir de um quiosque. Viu que não me importo de servir os meus estimados convidados, porque eles são meus convidados”, afirmou Prigozhin numa entrevista publicada em 2011.

Os seus negócios expandiram-se significativamente. Em 2010, Putin participou na inauguração de uma fábrica de lanches escolares de Prigozhin, construída com empréstimos generosos de um banco estatal.

Só em Moscovo, a Concord ganhou milhões de dólares em contratos para fornecer refeições em escolas públicas.

Prigozhin organizou também serviços de catering para eventos do Kremlin durante vários anos e forneceu os mesmos serviços para as Forças Armadas russas.

Esta atividade valeu ao empresário a alcunha de “cozinheiro chefe de Putin”.

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