O líder do Partido Comunista numa aldeia do norte da China gastou 2,2 milhões de yuans (315 mil euros) em prendas para os conterrâneos, encarnando à sua maneira o princípio de “servir o povo” ensinado nas escolas do país.
Não é um gesto tipicamente proletário, mas o Partido Comunista Chinês (PCC) também já não é o que era.
Este caso, documentado com fotografias divulgadas na internet e na imprensa escrita tradicional, passou-se no último fim de semana em Dongjie, aldeia com cerca de 2.800 habitantes da vila de Yongnian, na província de Hebei, situada a 400 quilómetros de Pequim.
Song Furu, 1º secretário da organização comunista local e presidente de uma fábrica de produtos químicos, ofereceu a cada aldeão doze tipos de produtos alimentares, nomeadamente dez quilos de arroz, um quilo de carne de porco, uma galinha e um garrafão de óleo de amendoim.
Os habitantes de Dongjie com mais de 60 anos receberam também dinheiro, de acordo com a idade respetiva: os que já entraram na casa dos 90 tiveram direito a três mil yuan (430 euros), praticamente o dobro da verba destinada aos que ainda não completaram 70 anos.
As prendas foram oferecidas por ocasião do novo ano lunar, que começa no próximo dia 19, sob o signo da Cabra.
Nas redes sociais, o gesto de Song Furu suscitou elogios e algumas suspeitas.
“Que rico que é o secretário do partido de uma aldeia! Gostava de saber como ele ganha tanto dinheiro”, escreveu um internauta chinês.
Milhares de funcionários e quadros dirigentes foram punidos no âmbito da campanha anticorrupção em curso no país, a mais drástica das últimas décadas, mas a Comissão Central de Disciplina do PCC já alertou que “a raíz do problema” ainda não foi eliminada.
Um outro internauta exortou o benemérito líder de Dongjie a mudar para outra terra: “Vem para a nossa aldeia, secretário Song!”.
Na função pública chinesa, onde os magros vencimento do pessoal são considerados uma fonte da persistente corrupção, o salário mais baixo deverá duplicar este ano para 1.320 yuan (cerca de 190).
O salário do Presidente da Republica, Xi Jinping, também subirá (60%), mas, não contando com os subsídios atribuídos em função do cargo e de outras exigências associadas ao exercício do poder, o líder chinês receberá apenas 11.385 yuan (1.630 euros) por mês.
Xi Jinping é igualmente secretário-geral do PCC, o cargo político mais importante da China.
O PCC renunciou ao “aprofundamento da luta de classes” no final da década de 1970, passando a encarar o desenvolvimento económico como a sua “tarefa central”, e os empresários, antigos “inimigos de classe”, já podem possam filiar-se no partido.
Depois de ter preconizado um dos modelos mais radicais de comunismo, o PCC defende hoje a economia de mercado e a iniciativa privada, mas sem abdicar do seu “papel dirigente”.
Trata-se também da maior organização política do mundo, com cerca de 85 milhões de filiados, e das que se mantém há mais tempo no poder.
/Lusa