A Legionella está a espalhar-se pelo Mundo porque o ar está mais limpo

ZAP // Janice Haney Carr / CDC; NightCafe Studio

Bacterias Gram-negativas de Legionella pneumophila, conceito artístico

A diminuição dos níveis de dióxido de enxofre na atmosfera pode estar relacionada com o aumento da doença.

O aumento de casos de Legionella, um pouco por todo o mundo, tem sido um enigma. De acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, foi registado um aumento de nove vezes a nível nacional, de 2000 a 2018.

Para compreender melhor de que forma as mudanças nas condições ambientais influenciam a proliferação da Legionella, os cientistas da Universidade de Albany analisaram as tendências do dióxido de enxofre atmosférico, a incidência da doença e o papel das torres de refrigeração no alojamento da bactéria.

Segundo o Study Finds, a Legionella é altamente sensível à acidez, pelo que tende a morrer rapidamente em condições de pH baixo. Ao longo do último meio século, graças à legislação concebida para reduzir as emissões de dióxido de enxofre, os níveis de pH na atmosfera diminuíram, com grandes benefícios para a saúde humana e ambiental.

No entanto, com menos dióxido de enxofre na atmosfera, as gotículas de água emitidas pelas torres de refrigeração e outros sistemas de água são menos ácidas, tornando mais fácil para a Legionella residente sobreviver, ser transportada pelo ar e permanecer viável à medida que se espalha.

Entre os muitos locais onde a bactéria cresce (tanques de água quente, chuveiros, torneiras, etc.), as torres de refrigeração são uma das principais preocupações. Estas podem emitir plumas de bactérias transportadas pelo ar, espalhar-se e infetar pessoas até 10 quilómetros de distância.

No estudo, os investigadores levaram em consideração o dióxido de enxofre atmosférico, a temperatura, a precipitação, a humidade relativa e o índice UV, chegando à conclusão de que os estados do Nordeste tinham a maior carga de doenças, com Nova Iorque a liderar a lista.

Nesta cidade em particular, foi possível perceber que, de 1992 a 2019, os casos aumentaram a uma taxa semelhante à diminuição da concentração de dióxido de enxofre.

Com dados do banco das torres registradas no Estado, a equipa conseguiu mapear o número de casos em relação às localizações das torres e encontrou tendências que ligam a proximidade das mesmas e a incidência da doença.

Mas a solução passa por poluir mais? Não. À medida que as concentrações de dióxido de enxofre diminuem, torna-se fundamental ter consciência do risco potencialmente acrescido de contrair a doença, sobretudo entre as populações vulneráveis em zonas com elevadas taxas de incidência.

Os investigadores sublinham, assim, ser necessário adotar uma abordagem holística para lidar com este problema, com a responsabilidade a recair nos médicos e profissionais e responsáveis de saúde pública que, durante os períodos de elevada utilização das torres de refrigeração, devem avisar as populações de risco.

Ainda assim, a melhor defesa continua a ser a limpeza dos locais onde a bactéria se propaga.

O artigo científico foi publicado, este mês, na PNAS Nexus.

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